A cidade do Porto tem na minha óptica dois ex-libris, o Bolhão e a Ribeira, pontos fulcrais associados intrinsecamente ao bulício do burgo. Mas tudo é relativo. Assim, os torna viagens da minha terra a estes dois locais juntavam mais um, a Rua Escura. E porquê? É isso mesmo o que muitos de vocês estão a magicar, e também porque era um dos grandes mercados de rua. Os tipos vinham lá da aldeia no Escamarão, passavam pela Rua Cimo de Vila onde deitavam abaixo uns quartilhos de bom tintol de Amarante fermentado em lagares de pedra depois de pisado por ecológicos pés de lavradores, ( eh ASAE!) onde mulher não entrava. Escorriam pela Rua Chã onde o cheiro a feminino pairava no ar exalado dos célebres Cafés Royal e Derby e daí iam até à Rua Escura, tirar a barriga de misérias, afiar o lápis por uma nota de vinte. Eram as escapadelas dos mais endinheirados geralmente regressados do Brasil para onde tinham ido abanar a árvore das patacas. Era assim também uma maneira de se afirmarem, ir à cidade comer uma garina, às vezes eles é que eram comidos. Isto são histórias do passado, pois nenhum dos prevaricadores de que estou a falar anda por cá. Bem, mas voltando ao início desta crónica hoje fui ao Bolhão, já não entrava lá há anos, ouvir a sabedoria do historiador da cidade, Germano Silva e do Arquitecto Correia Fernandes sobre a história deste mercado e o que paira no ar sobre o mesmo. O que parece estar na forja é mais um centro comercial alterando assim radicalmente um espaço característico do Porto, irmão do preservado edifício Mercado Ferreira Borges, construído após as lutas liberais num local onde havia muita água, daí o nome Bolhão. Uma remodelação profunda é necessária pois salta bem à vista aquela miscelânea de coberturas de lousa, plásticos, fibrocimento, lonas e toldos de todas as formas e feitios sobre as bancas. Argumentava-se e bem que de Centros comerciais já está o Porto cheio. Um popular interveio: se Rui Rio arranja parceiros para as corridas de automóveis, de aviões etc. também certamente haveria quem desse uma ajuda para a remodelação, não alteração, deste espaço que está no âmago da cidade! Um movimento pró Bolhão parece estar na ordem do dia tal como aqui há uns anos houve o movimento pró Coliseu.
(a imagem é do blog "Jornalismo Porto Net", esqueci-me de levar a m/máquina)
Parafraseando o almirante do 25 de Abril, Pinheiro de Azevedo, que rematava com “o povo é sereno” fui hoje testar o cumprimento da lei que a partir de 1 de Janeiro entrou em vigor. Todos sabemos o deficiente cumprimento das leis no nosso país. A título de mero exemplo veja-se o limite de velocidade nas auto-estradas – 120, e pergunta-se quem cumpre? Mais, eu, cidadão cumpridor, se for a essa velocidade já sou considerado um empata por todos os outros que vão a chispar.
Fui então tomar uma bica, como dirão os de lá de baixo, a um café na Praça Francisco Sá Carneiro. Tinha lá ido de outras vezes onde me encontrava com um amigo da tropa. Era uma fumarada mas agora sim, tudo nos bons costumes. Os mais aflitos do tabaco vão lá para a esplanada, e assim é que está certo.
Assunto encerrado este, fui hoje a uma livraria de referência tentar adquirir uma obra do escritor recentemente falecido considerado um marginal, Luiz Pacheco. Pois não há nada, foi a resposta que obtive. Mas que poderá aparecer alguma coisa porque o homem foi agora muito falado, adiantaram. Entretanto apanhei no blog “ A Baixa do Porto" um post de Manuel Leitão – “Morreu o Pacheco. Viva o Pacheco!”, do autor citado. Vejam o estilo, uma segarrega interessante.
A imagem da esquerda documenta o local onde começámos - Biblioteca Pública de S.Lázaro - e a imagem da direita identifica o sítio onde acabámos - Igreja de S.Francisco. Acompanhando o Dr. Júlio Couto, em 29 de Dezembro de 2007, aumentámos os nossos conhecimentos sobre a cidade do Porto. Podem ver mais imagens em http://picasaweb.google.com/franc.salgueiros/CMPPasseiosDeDezembro29DeDezembroDe2007
Olhamos para trás e um longo caminho de memórias nos assalta a mente. O andar por aqui torna-nos confusos perante a mudança que se observa na actual geração. Sou no entanto levado a admitir que o “status quo” se manteve inalterado ao longo de várias gerações, mas agora tudo acontece com uma rapidez de tal maneira que o que ontem foi uma novidade de invenção, amanhã já não é. Transversal a toda a sociedade, até mesmo o petiz que hoje recebe o brinquedo que admirou, amanhã já não lhe liga patavina a pensar no brinquedo que eventualmente virá!... Estou a lembrar-me do azeiteiro que percorria as terras das redondezas com a sua mula carregada de cântaros com o precioso líquido para venda! O burro do moleiro, que nunca o foi, mas sim macho, a carrear o milho para o moinho e no regresso a farinha! O guarda-soleiro que andava de terra em terra a compor os guarda-sóis (chuvas) e a meter gatos nos pratos rachados. E que dizer dos periódicos regionalistas que enalteciam a morte dum lobo malvado, que dava cabo dos cordeiros, por destemido lavrador que depois ia de terra em terra com a pele do traste às costas pedir um óbolo pela façanha! Actualmente levaram sumiço os lobos mas apareceram os javalis que destroem as poucas culturas, mas ai de quem lhes faça mal!... As sardinheiras, vindas do Couto de Souselo calcorreavam os caminhos com a canastra à cabeça para ganhar algum pecúlio! E que dizer daquela senhora da minha terra, o marido ainda é vivo com proveta idade, que ia a penantes vender uma giga de maçãs da terra à festa de S. Domingos da Serra na freguesia de Raiva, Castelo de Paiva, que se celebra em Setembro. Eram seguramente mais de 3horas de caminhada para lá chegar!... Agora as terras, donde vinha toda a riqueza, deixaram de ser trabalhadas e assim o interior está cada vez mais abandonado e o fecho de escolas e centros de saúde também vem contribuir para a desertificação. É o Portugal rural no seu estertor, agora comandado pelas normas da Europa dita civilizada, apanhado na globalização que lhe cerceia a identidade.
Um sábado morrinhento propício a ficar na casota a pôr a leitura do JN em dia até ao tutano, mastigar mais umas páginas do "Rio das Flores" e a espreitar a TV. No Porto Canal estava Júlio Couto a debitar história sobre o Porto. Desta feita falou da fonte da juventude que está na Avenida dos Aliados. Os tripeiros deram-lhe o nome sensual de “menina nua”. Foi a Nelinha, que em jovem posou para o escultor Henrique Moreira, que Júlio Couto ainda conheceu, já velhinha. (J. Couto não perdeu pitada brincalhona, como é seu timbre, ao perguntar à Nelinha sobre o comportamento do escultor na feitura da obra, perante corpo tão escultural!... - Ó menino, ele era muito mexelhão! Pudera, digo eu, o artista tinha que fazer o trabalho!...) O apresentador aproveitou para mandar umas farpas nomeadamente sobre o cinzentismo da Avenida e, novidade, novidade, que está prevista uma nova mexida no espaço, para ajardinar. Falou também de fugida noutras esculturas que estão naquela zona da cidade e de uma que está há muito prevista do general sem medo – Humberto Delgado, cujo local seria onde está o “tanque das lavadeiras”, palavras de Júlio Couto. Noutra versão o autor deste arrazoado já lhe chamou "tanque para o gado beber". Helás!... novamente jardins nos Aliados?!... Vamos lá ver o que vai sair, se bem se lembram o consagrado arquitecto da polémica intervenção que descaracterizou a Avenida não queria lá “rodriguinhos”. Ficamos espectantes ! ...
Há por aí muito boa gente, onde estarei incluído, a dizer que as leis não se cumprem ou cumprem-se mal. Lá que dos orgãos do poder saem leis às carradas lá isso é verdade e umas atropelam outras anteriores de tal maneira que os potenciais cumpridores ficam às vezes sem o dever cumprido.
Saíu agora a lei de proibição de fumar em recintos fechados. Lei que na minha óptica peca por tardia, no entanto está a ser aceite por todos. Por todos? Bem não será tanto assim, mas quase... As notícias do JN hoje, já ontem as televisões tinham posto a boca no trombone, dizem que a autoridade máxima da ASAE, Sr. Antonio Nunes, foi apanhado aparentemente em falta mas ele diz que não. Interessante ver o que diz o Director Geral da Saúde sobre o caso.
Não li o que diz a lei, só espero que não haja por lá uma virgula fora do sítio a justificar áreas de salvo conduto.
Tenho sido fumador passivo pelo que aprovo a lei que saíu, e com isto estou a dar um apoio pontual ao governo de Sócrates. Quem diria?...
A próxima viagem, que não farei, tinha-a também aconselhado a uns amigos. Resta-me a consolação de ter efectuado, por três vezes, as duas primeiras englobado num grupo de professores da escola onde trabalhei, viagens paradisíacas na linha do Tua. Após o grave acidente há um ano, um pedregulho da escarpa mandou a carruagem para o rio, a linha ficou fora de serviço e agora qual cereja em cima do bolo, para a REFER, irremediavelmente abafada com a albufeira da barragem que se vai construir na Foz do Tua. E para que não haja veleidades de ambientalistas a sua rápida construção está no cano da espingarda, pois das dez barragens previstas no país esta vai ser a primeira. Os autarcas da região, excepto um, agacharam-se e concordam com a realização da obra certamente acham que será para a região uma mais valia viva, enquanto que a linha será uma mais valia morta. Não temos opinião formada, quem somos nós, no entanto queremos aqui lembrar que nos anos, creio que 50, toda a gente apoiou a construção do actual Palácio de Cristal, que não o é, com o derrube do verdadeiro. Hoje lamenta-se essa canalhice!... Falar da paisagem que se desfruta nessa linha é algo que não consigo traduzir no papel pois a natureza ali deixa-nos arrebatados perante o rio, as escarpas e a própria linha ora entalada na rocha ora suspensa em taludes. Era um potencial turístico que noutro país seria bem explorado, por cá como não era rentável, fecha-se a tasca!...
A imagem é do interessante blog:
http://www.ocomboio.net/acesso.html. E para quem gosta destas coisas sugiro aqui uma majestática virtual viagem nesta espectacular Linha do Tua!...