Histórias da guerra - VII
Isto de estar para aqui a lançar umas postas de pescada sobre as histórias da história da guerra colonial é uma seca para quem não a viveu. Abordo estas memórias sem qualquer espírito reivindicativo de vitória nem com lamechices a suplicar aos donos da Nação algum subsídio do stress pós-traumático que felizmente não tive.
Há dias em conversa com um amigalhaço que partilhou comigo estas andanças pelo norte de Angola dizia: - olha, nós recordamos estes casos pontuais da guerra tal como os nossos avós ou pais nos contaram o que passaram em Flandres na primeira guerra mundial ou na segunda em que Salazar disse aos portugueses: livro-vos da guerra mas não da fome, e o povo agradeceu. Somos agora nós, dizia o meu comparsa, os testemunhos vivos desses dramas que passarão ao esquecimento ou lembrados aqui e ali em obras de alguns escritores que directamente sentiram na pele o odor do capim africano. Os documentários de Joaquim Furtado na RTP que estão a passar às terças feiras são também um rico testemunho.
As vivências no dia a dia num clima de guerrilha tornam-se rotineiras e o perigo é secundarizado pela malta da picada. Os do arame farpado, como eu fui, cagavam-se de medo quando tinham que alinhar numa coluna militar para ir gozar uns dias de licença a Luanda. Tenho ainda bem presente uma dessas idas na coluna, tremia como varas verdes, via um turra em cada curva da picada, enquanto a tropa macaca no jeepão em total descontracção a falar da família transmontana ou eventualmente das aventuras carnais no “bairro operário”, em Luanda, onde era um ver se avias, porta sim, porta sim.
Bonito, bonito! Se a coisa dava para o torto, era o diabo quando havia mortos ou feridos. Era um banho de água fria, direi mesmo gelada e então tudo começava de novo. Ordens rigorosas eram dimanadas dos comandantes: olho vivo, nada de facilitismos, armas afiadas sempre prontas para a rajada e o pessoal por uns tempos assim cumpria mas depois voltava ao ram-ram.
A imagem dá-nos bem a ideia dos contratempos que o pessoal passava na picada na época das chuvas. Às vezes os "burros do mato" ficavam de tal maneira atascados que tinham que ser puxados com os guinchos.
Fiquem bem, antonio