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Magistério6971

Os autores deste jornal virtual apresentam a todos os visitantes os seus mais cordiais cumprimentos. Será bem-vindo quem vier por bem.

Magistério6971

Os autores deste jornal virtual apresentam a todos os visitantes os seus mais cordiais cumprimentos. Será bem-vindo quem vier por bem.

Histórias da guerra - V

Hoje aborda-se a temática da homossexualidade com naturalidade pois deixou de ser assunto tabu. Longe de mim polemizar os assuntos sexuais, que devem ser encarados com o mesmo olhar com que se vai saborear um bife a Alvarenga, um cabrito ao Marco, uma posta mirandeza para além do Marão ou para sermos bairristas ir mandar abaixo umas tripas à moda do Porto ao Restaurante Ribeiro (depois vou-me cobrar da publicidade), ali na Praça dos Poveiros. Mas se recuarmos quarenta anos essa “promiscuidade” era vista só na escumalha nos bas-fond das cidades. Era um assunto que quando era jovem militar me passava ao lado e daí a minha perplexidade quando estava no mato, leia-se, interior de Angola, me foi dito em surdina que o capitão duma Companhia do meu Batalhão gostava de fazer umas rondas nocturnas aproveitando-se da privacidade da escuridão. Longe de mim ver um graduado com galões em cima das ombreiras com tendências não paradigmáticas. A não notícia era saber que este graduado ou outro iria de vez em quando a Luanda desenferrujar o prego. A oferta era vasta e a moralização da tropa também passava por aí, e então o segundo comandante, um marialva baixote e liberal que mandava umas bocas sobre a política salazarista, era um pimpão, a cada passo se desenfiava da pasmaceira do aquartelamento. Englobava-se numa coluna militar e lá ia ele a Luanda, no jeep Willys que lhe estava distribuído, mudar o óleo(entenda-se a dualidade), pôr a escrita em dia. O tipo tinha ficado viúvo precocemente de modo que tinha campo livre e ainda não se falava na SIDA. A quando do 25 de Abril o MFA (Movimento da Forças Armadas) deu-lhe um tacho importante em Marrocos tendo em conta certamente algum antifascismo que aparentava.
Já o Comandante do Batalhão era um transmontano que tinha estado a comandar a GNR aqui no Porto. Era um tipo senhor do seu nariz que passava a vida a fazer relatórios das operações militares, hiper doseados de mortos e feridos da outra parte, como convinha. Há dias rejuvenescemos quando encontrei um médico do Batalhão que em amena cavaqueira me recordou as peripécias lascivas, à socapa, do comandante.

Quanto ao major que liderava a confidencialidade das operações e informações militares, que com o primeiro e segundo comandantes fazia o trio das patentes mais elevadas, com quem trabalhei, era de Lisboa. Quando ia à cidade gostava de admirar a pose das cabritas que se pavoneavam pela baixa de Luanda, junto à cosmopolita cervejaria "Portugália". Era um inveterado fumador, chupava um cigarro do princípio ao fim sem o tirar da boca, acendia o seguinte com o morrão do anterior, deixando cair a cinza na papelada que esfolhava sobre os avanços e recuos da guerrilha. No segundo ano da comissão, no Ambriz, fumava de cachimbo. Desse tempo guardo de recordação um louvor patente na minha caderneta militar dado pelo comandante do Batalhão sob proposta do major.

Bem, mas voltando à vaca fria, perante a minha estranheza sobre a personalidade do tal capitão, a confirmação vinha a seguir, que o homem andava à noite a fazer a ronda às sentinelas certamente para testar diligentemente se estava tudo nos trinques!...
As aventuras sexuais, hetero ou omo como são coisas que a cada um pertence, não são assuntos para tratamento em parangonas na praça pública, e o meu respeito pelas minorias é ponto de honra. Nem tão pouco me considero um voyeurs de intimidades. Abordei aqui e agora esta historieta banal por se ter passado na época do tabu enquadrada na comissão militar no interior, norte de Angola. Na tropa essas tendências que saem fora do cliché da normalidade não eram toleradas, soube dum mancebo que para se livrar da guerra alegou conjuntamente com o factor “C” que tinha fraquezas de não total virilidade, mas realmente não passava de pura peta. O certo é que se safou do serviço militar e da consequente mais que certa, ida para a guerra que se desenrolava em três frentes, Angola, Moçambique e Guiné.,

Nota final: Naquela altura os comportamentos desviantes saíam fora dos meus padrões do entendimento sexual. Actualmente fico muito confuso com o que há uns anos a esta parte se tem passado ao nível da pedofilia. O caso Casa Pia deixa-nos atónitos, e a saga parece continuar.

Na crónica seguinte vou abordar o papel, segundo o meu conhecimento empírico,  do corpo dos "Voluntários" em Angola.

 

         Fiquem bem, antonio

Uma questão de marketing?

Ser andarilho por aqui e por ali dá-me a possibilidade de tropeçar em situações, umas formais outras caricatas.
Hoje ali no centro de Gondomar dei de caras com uma destas. Já tinha visto nos pára-brisas dos automóveis “VENDE-SE”, “PROCURA-SE NOVO DONO”, “TROCO POR EUROS” ou simplesmente o número do telemóvel em letras garrafais. Agora o que na verdade me chamou a atenção foi ver “DÁ-SE” e em letra miúda o número do telemóvel. A minha perplexidade foi constatar que a viatura que ostentava tal dístico tinha bom aspecto, nada de zurrapa. Será consequência da muita oferta para pouca procura? Quererá o vendedor interiorizar “”DÁ-SE” por bom preço” sem explicitamente o dizer, explorando o marketing?
Bem, quando a esmola é grande, o pobre desconfia e fica de pé atrás!...
 

(tinha a imagem para publicar mas ainda não me entendi com a alteração do sapo-fotos). Ah, afinal já consegui e aqui está ela.

 

       Fiquem bem, antonio

Histórias da guerra IV

Estávamos em 1968. As missões militares desenvolviam-se por todo o norte de Angola. A cerca de 100 Km de Luanda, no Caxito, eram as portas da guerra. O que é que isto quer dizer? A partir desta localidade para todo o norte só era permitido circular viaturas civis escoltadas pela tropa.
Em Luanda havia muitos caçadores (em África esta actividade tem a ver com caça grossa), conheciam muito bem todo o interior para onde faziam grandes incursões antes do inicio da guerra (1961).
Naquele ano de 1968 um grupo de funcionários públicos muito conhecidos em Luanda, amigos da caça, passaram à socapa para além da zona proibida, valendo-se dos seus conhecimentos do terreno em dois jeeps,  foram caçar de noite para a zona do Ambriz.
Tiveram azar, interceptados pelos turras, foram mortos excepto um que conseguiu fugir e dar o alarme no aquartelamento mais próximo.
Em Luanda criou-se um grande movimento espontâneo de caçadores que estavam dispostos a fazer uma grande batida na zona para dar castigo aos facínoras. Isto chegou ao conhecimento do Comandante da Região Militar que por sua vez alertou o Comandante do meu Batalhão, responsável pela área, no sentido de travar a iniciativa dos caçadores. Seria de facto uma missão que a estes não competia mas sim à tropa que ficaria desautorizada se a iniciativa dos amigos de Diana fosse avante.
Em 2001, na mesma região que é abundante em caça grossa também aconteceu um caso muito semelhante com baixas em caçadores de Luanda e familiares de Lisboa que tinham sido convidados para uma caçada. Este caso andou nos jornais durante uns tempos, mexeu com as diplomacias, até porque houve um grande imbróglio com troca de cadáveres vindos de Luanda. ( foi ainda antes de Savimbi ter sucumbido de modo que foi fácil entre a UNITA e MPLA atribuírem mutuamente as culpas deste drama, mas segundo a reportagem da jornalista Felícia Cabrita teria sido acção da  UNITA)

 ver: http://dn.sapo.pt/2005/04/30/sociedade/familiares_vitimas_ambriz_processam_.html

A minha próxima crónica vai abordar, com naturalidade, um caso libidinoso passado no interior de Angola, em 1968.

 

   Fiquem bem, antonio

Porto enterrado

Foi numa sessão de poesia
No Porto
No Clube dos Fenianos
Onde dei comigo
Absorto
A pensar nos enganos
Que em poesia se dizia
Que o Porto estava morto
E das saudades da vida que havia
Mas agora o Porto de solidão
Por todos sentida
E foi unânime opinião
Que toda a pedra que há na avenida
É do Porto tampa do seu caixão
Enterrado com vida                                                 (A Av. dos Aliados era assim)
Antes tinha sido a Cordoaria
Agora foi a Avenida
Dita dos Aliados!
Foi o que os poetas disseram
Em poesia
Que assim o Porto enterram
Aos bocados
Haja quem no Porto goste de flores
Neste porto de muitos sentidos
E quem o enterrou e aos seus amores
Tenha os jazigos de pedra
Pelo menos
Floridos

Autor: Silvino Figueiredo na Página do leitor do JN de 17NOV2007

 

  (antonio)

Nacos da vida

A vida de qualquer ser humano é atravessada por emoções, algumas fortes, outras assim, assim.
Ontem tive uma das que me deixou deveras KO no melhor sentido. E tudo por culpa deste brinquedo que inventaram chamado Internet. A nossa existência é feita por etapas, umas mais marcantes do que outras e a soma de todas dá-nos o prazer de viver. Onde é que eu quero chegar?
Estava eu numa das minhas pesquisas na NET ao acaso e apanho um site que me mostra uma imagem de foto aérea do aquartelamento de Quicabo no norte de Angola onde passei parte da minha comissão militar. E tanto mais recordativo foi ver e reconhecer ao pormenor, a imagem era de 1968 altura em que lá estive. As casernas, a messe, o pavilhão do comando onde trabalhava e via a guerra nos papeis, a pequena pista onde se vê uma avioneta, certamente um Dornier, o pavilhão das mecânicas auto que designávamos por “ferrugem” e até o monumento aos militares falecidos em combate do anterior Batalhão. Tudo muito emocionante.
Quicabo tinha sido uma povoação importante mas que na altura estava reduzida ao aquartelamento e alguns indígenas. A maioria da população tinha-se pisgado para a mata. Passados quase quarenta anos foi para mim um achado que pensava não mais visualizar. A vida tem destas coisas e senti também agora a necessidade de partilhar convosco esta descoberta que me toca de sobremaneira.

Fiquem bem, antonio

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