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Magistério6971

Os autores deste jornal virtual apresentam a todos os visitantes os seus mais cordiais cumprimentos. Será bem-vindo quem vier por bem.

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Histórias da guerra - I

10 de Junho de 1967, dia de Portugal. O Batalhão maçarico do qual fazia parte tinha chegado aos Dembos em Angola uns dias antes após uma viagem através do Atlântico no paquete Vera Cruz que estava adaptado ao transporte de tropas do puto para as províncias ultramarinas. Foram sete dias e sete noites que os lateiros iam aproveitando para pôr a lerpa em ordem. Os milicianos e os rasos também alinhavam, era uma maneira de espairecer e deixar para trás as saudades da famelga. Após a chegada a Luanda o pessoal seguiu de comboio em vagons fechados de mercadorias, até ao grande entreposto militar do Grafanil, paredes meias com um enorme cemitério de viaturas militares todas espatifadas prenúncio daquilo com que nos íamos confrontar. Do Grafanil seguimos para o mato, alcatrão até ao Caxito, por uma picada manhosa e finalmente a extensa coluna chegou ao destino – Quicabo. Umas cubatas de gentílicos e o aquartelamento com casernas de paredes de madeira e cobertura de chapa zincada era rei e senhor. Um gerador fornecia luz para o quartel. Aí durante uns dias convivemos com o Batalhão  residente que nos foi dando umas dicas sobre o teatro de guerra naquela zona.
Precisamente na data acima referida os velhos, leia-se, o Batalhão que fomos render, deslocaram-se para Luanda para depois seguirem para o leste de Angola. Nessa extensa coluna incorporou-se um pelotão dos nossos que foram à povoação mais próxima (Caxito) buscar reabastecimento (géneros alimentícios, bebidas, muita cerveja CUCA e NOCAL e correio).
Foi precisamente no regresso do nosso pelotão que o baptismo de fogo aconteceu. A coisa foi dramática e bastante desmoralizadora, dois mortos e vários feridos. Uma robusta viatura pesada GMC ficou totalmente crivada de buracos devido aos projecteis dos turras e foi mesmo incendiada perdendo-se o correio que transportava (aerogramas). Um jeep da coluna consegui fugir da confusão chegando ao aquartelamento dando o alarme tendo logo ido em socorro pessoal armado até aos dentes com G3 e bazucas em viaturas todo o terreno, jeeps e burros do mato. Resgatados os mortos e os feridos foi pedido a Luanda para o mais grave, um alferes, um heli para evacuação. Como já era quase noite só pode vir no dia seguinte de manhã. Daí por uns tempos veio do Comando da Região Militar uma piçada para o Comandante do Batalhão dizendo, numa atitude economicista, que o pedido da evacuação deveria ser reformulado para uma avioneta (dornier).
Tive a sorte de no Batalhão de que fazia parte ver sempre a guerra nos papeis. O 10 de Junho todos os anos o comemoro de maneira especial. Nos encontros anuais que fazemos, e o pessoal está a ficar bem maduro e algum cacimbado, estes factos e outros são lembrados como se tivessem sido ontem. Eu pessoalmente como era um privilegiado, tropa de caserna não fui testemunha de casos bicudos no terreno, que muitos camaradas meus passaram, e assim me poder aqui vangloriar (não, é mentira)!...
(Como estão a passar às terças-feiras umas reportagens na RTP da autoria de Joaquim Furtado lembrei-me de também eu partilhar aqui as minhas emoções. Utilizo nesta crónica terminologia militar da altura)
 

    Fiquem bem, antonio