Pela ruralidade - O bem precioso
A bica!...
Durante centenas de anos o mundo rural não sofreu alterações, foram o carro de bois e a força braçal ícones da agricultura. Na nossa geração a mudança aconteceu com a mecanização e agora mais recentemente com a globalização.
Na terra das minhas raízes essa mudança foi mais retardada pois tem a carga da interioridade acentuada.
Bem, mas o que eu quero hoje trazer à liça é o abastecimento de água, bem precioso para a sobrevivência humana e parece que entre nós, segundo o meteorologista Anthímio de Azevedo, poderá a médio prazo escassear. Assim, das antigas fontes ou bicas como lá se diz, que ainda existem, passou-se em 1955 para a exploração mineira de uma boa água que foi canalizada para dois fontanários públicos, inaugurados nessa data com pompa pelo senhor governador civil de Viseu e pelo presidente da Câmara de Cinfães. Foi também feito um tanque bebedouro para os animais que nessa época abundavam.
Foram estes melhoramentos realizados no âmbito das comemorações do centenário da elevação da vila de Cinfães a concelho. Da notícia do Primeiro de Janeiro da época diz-se: “Agarrados ao labor da terra, respirando o ar sadio da serra a debruçar-se no rio, onde não chegaram ainda as chaminés das fábricas a marcar a gritante mecanização do tempo hodierno que passa e tudo avassala – o povo de Cinfães viveu horas de alegria e entusiasmo” e mais adiante “... ciosa dos seus pergaminhos donairosa nos seus atavios festivos, ao comemorar o 1º centenário de fundação do concelho, deu uma impressionante nota de acentuado amor ao torrão natal da gente oriunda da região”
Actualmente lá na terra anda toda uma azáfama de máquinas a abrir trincheiras, na estrada e nos caminhos, para colocação de tubagem para água e saneamento. Já estou a ouvir aí desse lado: que terra atrasada!...Acresce dizer que o casario é muito disperso pelo que a obra é bastante dificultada. A água virá duma captação do Rio Paiva e o saneamento irá para esse mesmo rio, a montante da captação, depois de tratado. É o progresso! Actualmente quase todas as casas têm água, de captação particular, que vem da serra. Lá na terra diz-se: vamos beber água de lavar o cú!... Não concordando na totalidade com o pensamento que está subjacente a estas bocas, no entanto compreendemo-lo. Só esperamos que quando forem feitas as ligações, não cortem a água que abastece os fontanários com a insinuação de “imprópria para consumo”. Por vezes os interesses ocultos sobrepõem-se aos reais interesses das populações. Vamos ficar atentos!...
Fiquem bem, antonio
O fontenário!...