Crónica três
Este artigo recente do António sobre a aula de pedagogia trouxe-me à memória uma outra professora que todos recordarão, concerteza: a doutora Flora. Estou a lembrar-me concretamente de uma aula com ela. E estou a ver a senhora, atrás dos seus óculos graduados e por baixo dos seus cabelos brancos, a abrir o manual de pedagogia que tinha sugerido aos alunos que comprassem e a pousá-lo em cima da secretária. De seguida, recordo-me de ter dito aos alunos presentes na sala que ia dar uns apontamentos. Não sei se estávamos em 1970 ou 1971 mas fiquei a saber que os apontamentos que a senhora estava a dar eram, nem mais nem menos, do que o que estava escrito no manual a páginas xis. Não desminto que já tinha escrito uma ou duas linhas mas apeteceu-me olhar para o lado para verificar o que faziam as minhas e os meus colegas. Todos escreviam. É verdade. Todos estavam a escrever. Agora não me perguntem se o que estavam a escrever era o ditado que a senhora estava a fazer ou os versos para o livro de curso...Olho para o outro lado e...idem, aspas. Olho de novo para o manual e lá apanho a linha onde a senhora ia. Bom, só me faltava mesmo era olhar para trás. Quando o faço e vejo que toda a gente também escrevia, ouço aquela voz característica da professora que vê o aluno distrair-se:
- O senhor aí, não escreve? Não toma apontamentos?
- Tomo, tomo, senhora doutora.
E lá consegui chegar ao fim da aula sem criar problemas.