Histórias da guerra - VI
A sublevação dos pretos (nativos, se preferirem) em Angola em 1961 foi dramática para muitos brancos principalmente no interior. De aparentes pacatos lacaios passaram de catana na mão a ser algozes dos seus patrões. As reportagens de Joaquim Furtado na RTP retratam bem esse clima de ódio que se instalou contra a raça branca.Foi devido a esses massacres que se formou em Angola uma organização de “voluntários” que eram financiados pelos grandes fazendeiros e pelo governo provincial de Angola. Era uma força militarizada composta por indivíduos maduros, destemidos, bem armados, com muita mobilidade que tinham sido vítimas directas ou indirectas dos massacres atrás referidos. Como conheciam bem o terreno, eram caçadores, deslocavam-se em pequenos grupos, geralmente em jeepoes e tinham por missão a defesa das aldeias e das fazendas. Quando passavam pelo meu aquartelamento nos Dembos eram olhados pela tropa macaca (esta designação não significa menoridade, aplicava-se em oposição à tropa de elite, comandos. Do mesmo modo “puto” era o nome atribuído quer pela sociedade civil ou militar que em Angola davam a Portugal Continental), com respeito e admiração devido à sua eficácia.
Como a pressão internacional começou a fazer-se sentir, dizendo que Portugal tinha mercenários ao seu serviço, o nome que até então tinham os “voluntários” OPVDCA (Organização Provincial de Voluntários da Defesa Civil de Angola) passou a designar-se de Guarda Rural, em 1968.
Enquanto os contingentes militares não chegaram do puto, para Angola e em força segundo Salazar, após os trágicos acontecimentos de 1961, estes destemidos grupos de “voluntários” tiveram um papel charneira na defesa das pessoas e bens que estavam a saque.
A imagem é uma das muitas memórias que ficaram espalhadas pelo interior de Angola. Será que essas memórias, coloniais, segundo os independentistas, foram preservadas? Duvido muito. Até aqui entre nós com a Revolução dos cravos destruíram-se estátuas (Salazar) e a grande ponte de Lisboa mudou de nome, mas houve mais.
Esta memória é dos militares que morreram do Batalhão que fomos render a Quicabo no norte de Angola. O autor deste arrasoado ficou no retrato mas felizmente de corpo e alma.
A próxima história de guerra vou tentar desenterrá-la lá do fundo do baú!
Fiquem bem, antonio