Pela ruralidade
Ele era um padre da velha guarda, conservador quanto basta. Estávamos nos anos sessenta, ainda a missa era rezada em latim. O cura da crónica real, senhor Abade, como era tratado pelos paroquianos estava radicado na pastoreação da aldeia há cerca de 25 anos.
Tinha alguma terra que era pertença do passal e como tal pensava uma junta de vacas com a ajuda de um criado. Era também senhor dum cavalo que utilizava como meio de transporte nas deslocações a terras vizinhas. Mais tarde teve também um automóvel “cá ôlha”, uma autêntica “xicolateira” que volta e meia ficava de baixa!...
Como lavrador que se prezava de ser também, deitava logo pela manhã um braçado de erva ao gado. Nada de anormal para um eclesiástico, pois estávamos em pleno Portugal agrícola em que a riqueza estava na terra.
O filme da crónica começa agora: como a missa, homens à frente e mulheres atrás, era rezada pelo Sr. Abade de costas para os crentes, quando se ajoelhava no decorrer da cerimónia espelhava a bosta no pneu estriado da sola dos sapatos, pois antes tinha calcado uma bosteira na corte das vacas.
Hoje este episódio caricato presenciado por mim poderia ser motivo de chacota humorística, mas na altura era visto e aceite com normalidade num país que vivia de mãos dadas com a intensa azáfama agrícola.
Fiquem bem, antonio