Pela ruralidade
Vamos chamar os bois pelos nomes para que a nossa crónica não caia no abstracto de uma inspiração à mesa do café. A história verídica tem protagonistas sendo um padre que já não faz parte dos terrenos e um petiz e que aconteceu quase nas minhas barbas de garoto que as não tinha.
Padre ... Sousa truculento, senhor do seu nariz, pelo dinheiro era como o mafarrico por almas e por isso era um agiota com graveto a juros, enraizado na paróquia da minha terra onde esteve durante quatro décadas era amiúde visitado pelo arcipreste do concelho que certamente lhe vinha trazer directivas do Bispado de Lamego.
Este último tinha como meio de transporte o cavalo bem como o seu amigo ... Sousa. Se naquela altura ter automóvel era raríssimo, ser possuidor dum equídeo bem arreado e calçado para ir ali ou acolá também denotava “status”.
Naquele dia, andava eu ainda na escola, lá veio por montes e vales o senhor arcipreste, de fato preto, cabeção e coroa embora esta encoberta pelo chapéu de feltro, na sua montada bem ferrada, troc... troc... troc... Ao passar na minha aldeia um “puto”, o Zé, de calção com racha no rabo (cu rachado) ao ver aquele aparato, eufórico corre para casa, ali ao lado, espavorido e exclama na sua inocência:
- pai, pai, vai ali um burro a cabalo!... (na minha aldeia ainda hoje chamam burros aos cavalos, isto não é piada política, será talvez por alguma semelhança entre os equídeos e os asininos).
O bonacheirão do arcipreste numa de cura, acertivo, retorquiu na sua bondade:
- Vai, vai, meu menino!... vai, vai, meu menino!...
Fiquem bem com esta história real cheia de bucolismo e de doçura, antonio