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Magistério6971

Os autores deste jornal virtual apresentam a todos os visitantes os seus mais cordiais cumprimentos. Será bem-vindo quem vier por bem.

Magistério6971

Os autores deste jornal virtual apresentam a todos os visitantes os seus mais cordiais cumprimentos. Será bem-vindo quem vier por bem.

Olhar o Porto - CCIX( Olhares de Aquilino Ribeiro)

A cidade do Porto foi mimoseada por vários escritores, mas na minha óptica Aquilino Ribeiro foi um dos que nos deixou aspectos vivenciais do burgo na primeira metade do século XX.

Em tiradas políticas e sociais o autor desenvolveu o sentimento do portuense. Nas suas narrativas são evidentes aspectos da alma tripeira, olhava para os poderes centrais com frontalidade, não se deixava agachar.

É assim, referindo-se à Praça Nova, actual Praça da Liberdade “esta Praça é que foi a verdadeira universidade, não apenas do Porto mas de Portugal. Dali saíu a geração que contribuiu em boa parte para fazer a República e que arejou as letras e sobretudo a pedagogia, impregnadas ainda de miasmas...”

“Os mestres da Praça Nova tinham a elegância da isenção como Sócrates. E se ensinavam a ciência de governar e faziam a crítica de governantes e governados por todos os processos da inteligência, inclusivé a anedota e a sátira, desconheciam a arte de escalar o poder e caluniar.”

“O Porto era brioso do que fizera, das suas arrancadas, do seu D. Pedro, do próprio jacobinismo , concordes monárquicos e republicanos na glória do 31 de Janeiro. E, quanto à filaucia, não havia mão, fosse patrícia vestida de anéis, fosse papuda e grossa do trabalho, que espalmando-se no peito não desse um digno compasso à voz ufana:

- Tripeiro, com muita honra!”

 


Aspectos sociais eram também abordados por mestre Aquilino. Vejamos :“sobe-se a rua torta e escalavrada do Bonjardim, mas naquela casa de cornija abacial e reixas verdes já não assoma o rosto especioso da mulher mais linda e brejeira do burgo. Do seu João José – não sei se por defeito maldoso – dizia-se que estava tão enrramado que dois cucos a cantar nas duas hastes mais altas se não ouviam um ao outro.”

“Desde sempre que a mulher portuense constitui um tipo bonito, agradável, pele translúcida e veludosa, olhos grandes e envolvedores, modos dengues, certas promissões à sensualidade. Os morgados de Entre Douro e Minho, barbarizados como aroques no meio dos seus colondros, morriam por esta papa-fina.”

 


O Porto cidade, tem uma alameda com o nome de Aquilino Ribeiro, mas não tem um busto a perpectuar este escritor, as referências ao burgo nas suas obras mereciam.

 

  Ant.Gonç.(antonio)

Olhar o Grande Porto - CXC(entregues à bicharada)

É este título em epígrafe que ouço por todo o lado  quer seja entre o rol de amigos, conhecidos ou até simples cidadãos com que me cruzo e meto paleio. Vem sempre à baila a insegurança que se vai observando em situação crescente e os sistemas de justiça não dão resposta em consonância. Penso que ninguém no país acha as leis adequadas a começar pelos próprios políticos mas que não mexem uma palha para as alterar, sabe-se lá porquê?!...

E depois vêm sempre aquelas comparações que interiorizamos e nos deixam envergonhados, então não é que raramente há situações de perturbação social com os imigrantes chineses? Pois não, é que eles vêm de uma cultura de mão pesada para quem sai fora dos eixos.

Ando frequentemente pelo passeio pedonal, não só a passear a pevide mas também a esticar as canetas, na marginal do Douro entre Ribeira de Abade e Gramido, que já aqui fiz referência num post. Pois é uma dor de alma o vandalismo surripiador  de estruturas de apoio. Desde protecções de aço inoxidável e parqueamentos de bicicletas pifados, portas de balneários estroncadas bem como diversos equipamentos de apoio e informação vandalizados.

Para não me limitar ao que presencio, é do conhecimento geral através dos órgãos de informação de abafanços de tudo quanto é metal quer sejam tampas de saneamento, fios de cobre de empresas de telecomunicações  ou até estátuas valiosas materialmente e sentimentalmente, como ainda há poucos dias foi o roubo de um forcado de bronze em Alcochete.

E depois alguns, não muitos, admiram-se de ouvir: o que faz falta é um Salazar. Pessoalmente também estamos fartos das amplas liberdades que permitem maledicências. Chutar para fora do Parlamento metade dos deputados e aos outros exigimos que façam leis que ponham este país com ordem.

 

  (antonio)

 

 

 

Pela ruralidade - CX(Elas ainda não chegaram II)

Dia 1 de Abril, dia dos enganos ou mentiras , segundo a tradição. As crianças gostam deste dia para pregar umas partidas enganosas ao pai, à mãe, à tia e aos amigos. Eu no passado também dava importância a estas brincadeiras. Quando comprava o jornal, a primeira leitura era ver que peta tinha sido fantasiada. Hoje dou de barato essas pantominices, já não ligo a brincadeiras de chacha. O JN que não venha cá com essas tretas enganosas para entreter meninos, já bastam as páginas do RELAX para adocicar alguns adultos.

Então qual a razão da minha referência ao primeiro de Abril?

 Não há memória de gente madura com os neurónios afinados de se chegar a esta altura e as andorinhas ainda não terem aparecido. Até o manhoso cuco ainda não deu sinais. Dizia lá na terra o meu veterano vizinho que no ano passado só apareceu um cuco e este ano pode não vir e adianta se entre Março e Abril ele nao apareceu, ou o cuco se finou ou o fim do mundo chegou (assim sendo cara Benilde reza para que venha). E  verdade, verdadinha, a sua vinda atrasada é anunciadora de males. O feedback destas aves migratórias fazem-nas retardar a vinda pois as alterações climáticas assim ditam. As quatro estações do ano que desde os bancos da escola nos habituamos a caracterizar, já não fazem sentido, está tudo alterado. Agora podemos dizer que haverá duas estações e mesmo estas andam às cambalhotas, já nada é como era, diz-se. O Inverno, sinónimo de tempo chuvoso já não tem nada a ver. Entretanto vamos esperar que chova.

 

  Ant. Gonç. (antonio)

Olhar o Porto - CXXX(Património desrespeitado)

Depois do alerta de Germano Silva sobre o desaparecimento, leia-se, venda de altares, talha e imagens da capela dos Órfãos construida em 1851, vem agora no JN "IGESPAR quer saber onde pára o recheio da capela histórica". Agora vão-lhe agarrar ao rabo se o recheio foi para o estrangeiro como parece que sim.

Helder Pacheco, outro batente a falar do Porto, vem também hoje na sua crónica a insurgir-se contra o fecho do espaço do miradouro da Vitória que caiu em mãos de particular quando esteve mais de um século aberto a todos os visitantes, naturais e estrangeiros.

Mudando de agulha e puxando a brasa para a minha sardinha, não percebo as funções do IGESPAR, antes IPPAR. Concretizo. Há poucos anos foi feita uma intervenção numa casa com história aqui em Gondomar. Já falei aqui nisso mas vou lembrar. Em 1837 foi feita nessa casa a Convenção de Gramido. Esta mesma data estava inserida em azulejo no alçado lateral. Pois com as obras foi mandado às urtigas. Eu próprio referi isso aqui num post, cheguei a enviar um e-mail denunciando a situação, na altura ainda era IPPAR, mas não obtive resposta.

 

ver:

http://memorialdolamento.blogs.sapo.pt/104566.html

 

 

 

 

 

 

 

   (antonio)

 

     

 

 

Olhar o Porto - CXXII(A cidade oriental)

O homem tem cá uma pedalada que deixa atrás de si um galgo esbaforido em extensa planície alentejana. Era isto que o meu subconsciente parecia ouvir daquele grupo numeroso atrás de Germano Silva. Eu que não sou propriamente um molenga pedestre, tinha que carregar no acelerador para não ficar para trás e ouvir mais de perto a sabedoria infinita do mestre sobre a cidade, com umas buchas humorísticas pelo meio.

O passeio de hoje foi pela zona oriental, teve duas componentes, uma na cidade que normalmente conhecemos e outra a cidade escondida onde a ruralidade e os resquícios da era industrial ainda guardam memórias.

Partida da Praça Marquês de Pombal, vulgo Marquês, obra dos Almadas, antigo Largo da Aguardente, onde logo ali recebemos umas dicas bem como receção brindada pelo grupo folclórico do Porto. Rua Latino Coelho e Rua de Santo Isidro um dos pontos mais altos da cidade, local defensivo das tropas liberais a quando do Cerco do Porto. Praça e Jardim da Rainha D. Amélia, aí a capela de S. Crispim que veio para aquele local após ter estado nas imediações do Largo de S. Domingos. Teve de ser transferida a quando da abertura da Rua Mousinho da Silveira. A cidade tem muitos exemplos de capelas que mudaram de poiso, outras foram simplesmente destruídas. Estou agora a lembrar-me, a talho de foice, como teria sido uma medida acertada quando se pensou em fazer o Pavilhão dos Desportos, atual Rosa Mota, transferir o verdadeiro Palácio de Cristal para outro local!... Rua da Póvoa, e aí sim as memórias da cidade industrial onde o casario e ruas estreitas são marcos que subsistem. Capela do Senhor Jesus da Boa Vista, que fica junto ao hospital das “Goelas de Pau”. Rua das Eirinhas e paramos no amplo espaço arborizado, jardim de Paulo Valada, vulgo de Fernão de Magalhães. A partir daqui Rua Santos Pousada (o mestre disse que foi professor primário, no entanto numa pesquisa no Google vejo que foi professor da escola industrial Faria Guimarães, onde mais tarde funcionou a escola Soares dos Reis e agora funciona a escola de Hotelaria) e Rua de D. João IV onde as casas de gente endinheirada ainda nos fazem parar admirando o glamour. A rua das Oliveiras, nome sugestivo frisou, e agora vamos em direção à Praça dos Poveiros, disse Germano Silva. Como a hora para mim já ia adiantada, desenfiei-me, para usar um termo da tropa, e fui até casa colocar os pés debaixo da mesa.

 Em Dezembro há mais…

 

 

  (antonio)

Olhar o Porto - CXX (Os vizinhos do Porto e os clérigos)

Os livros sobre a cidade, de Germano Silva, não são para serem lidos duma assentada como quem lê um romance de fio a pavio. São livros de consulta para quem quiser saber algo mais sobre a cidade antiga que o autor trata por tu. Tenho aprendido umas coisas, se um turista me perguntar, desde que não seja em inglês, onde fica o Beco do Pedregulho ou a calçada do Rego Lameiro têm de imediato boa informação.

 “Porto, nos lugares da história” que comprei há dias é uma compilação das crónicas que o autor nos vai oferecendo nos média. Apanhei uma seca do camano para obter do autor a assinatura, eram mais que muitos a quererem obter o autógrafo do autor. Ainda não li o livro na totalidade, passei-lhe os olhos na diagonal e no fim prestei atenção mais demorada ao capítulo “os vizinhos do Porto” . No século XIV o burgo estava confinado dentro do muro, leia-se muralha Fernandina, era a cidade dos ofícios e mercadores onde não tinham cabimento os fidalgos, clérigos e outros poderosos, por não serem bem vistos, não eram admitidos como vizinhos. Era a “cidade do trabalho” cujo epítome chegou até aos nossos dias. Uma das razões para os poderosos não serem admitidos no burgo prendia-se com o facto quando os mercadores se deslocavam em negócios para a Flandres e Inglaterra deixarem as mulheres e filhas que eram desejadas por essa gente do poder nomeadamente os ociosos clérigos. E aqui um apontamento meu, a Igreja sofreu através dos tempos de muita hipocrisia. Mas nestes impulsos clericais temos no século XV, a cereja em cima do bolo, o abade de Trancoso que foi um ver se avias na arte de copular e semear. Chegando aqui dir-me-ão os mais crentes que uma andorinha não faz a Primavera, mas já um bando!...

 

 

 

  (antonio)

Olhar o Porto - CVI (das minhas memórias)

 Já lá vão dez anos que a lei da vida nos separou. Ele era um amigalhaço de longa data, trabalhávamos no mesmo local e daí fortalecermos uma amizade que foi bloqueada quando ele partiu. Era um transmontano dos sete costados. À menor deixa lá estava ele a falar da sua terra, dos usos e costumes de toda uma região alargada. Os transmontanos são assim, têm um forte cordão umbilical ligado àquela região, são sinceros e não esquecem o torrão natal. Talvez o anátema do isolamento durante muito tempo, p´ra lá do Marão mandam os que lá estão, seja a origem de uma auto-estima ligada entre eles e à terra, que não se nota noutras regiões do país.

Uma vez por outra, não tantas como as necessárias, íamos dar uma volta pela Baixa do Porto. Numa delas fomos beber um copo à Adega do Olho em pleno centro histórico. Nem eu nem ele éramos de copos, mas daquela vez fomos deitar abaixo um verde branco. E aqui noto mais uma vez o seu sentimento transmontano. Com o copo na mão, regressa às origens e desabafa: o meu pai quando vier cá ao Porto vou aqui trazê-lo. Vai adorar isto, é como estar lá na terra entre os demais no tasco do… Não sei se a sua vontade se concretizou mas o sentimento das suas raízes estavam ali bem patentes num copo de branco!...

 

 

  Fiquem bem, antonio