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Magistério6971

Os autores deste jornal virtual apresentam a todos os visitantes os seus mais cordiais cumprimentos. Será bem-vindo quem vier por bem.

Magistério6971

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Fim de feira

Quem sai deste rectângulo à beira mar plantado e entra em países da chamada europa central ou mais a norte, fica entusiasmado com a educação a todos os níveis que esses povos emanam. Mas se vamos para sul, países do norte de África ou mais abaixo, então esses ainda são piores do que nós, no deita para o chão, falamos de lixo.

Hoje presenciei do princípio ao fim uma limpeza no final da feira, nomeadamente na Afurada. A feira tinha sido de manhã e então em todo o terreiro ficou uma plantação de papelada, plásticos e afins, próprio de um país do terceiro mundo. Veio pessoal com sopradores e um camião vassoura que andou por ali tempo demasiado em voltas e mais voltas a aspirar toda aquela lixeira.

Enquanto por ali estive a observar o trabalho foram-me ocorrendo ideias. Então o presidente da CMGaia que se gaba de ter feito obra e tem, digo eu, do que conheço à beira mar, e ainda não se lembrou de no recinto da feira colocar contentores para os feirantes aí colocarem os trastes?!...

E depois pensei, isso certamente não interessa muito, pois a empresa de limpeza tem que ter trabalho. E às tantas interrogo-me: quem estará à frente dessa empresa? Como foi criada? E com que fim específico?

E quanto às lixeiras, no fim de feira, são extensivas a todas as que há por aí.

 

 

 

   (antonio)

Pela ruralidade - CXXX(Eles que se arrumem!...)

Há sempre estórias ficcionadas que saem da mente de imaginativos. Umas têm um fundo de verdade se bem que contadas com floreado para as tornar mais apetitosas.

A que vou aqui escarrapachar é verdadeira na totalidade. Toda a gente tem estórias de vida que poderão ser mais ou menos destacáveis conforme as características dos envolvidos. Estórias de padres é um fartote. Vamos então a uma.

Já por aqui falei no pároco de Fornelos (Cinfães) por vários motivos, já não está entre nós, esteve décadas à frente da paróquia. Era também lavrador, e no passado quem o não era nas aldeias, pensava gado pesado e deslocava-se num equídeo. Mais tarde comprou um automóvel, não topo de gama, nem pouco mais ou menos, era muito agarrado para essas cavalgarias, para ir aqui e acolá, mas não se esticava muito. Gostava do dinheiro, era usurário e não perdoava as côngruas dos paroquianos até dos mais carenciados. Certo dia, era domingo, resolveu ir até Alvarenga onde havia um padre da sua laia, eram amigos. Já ia a caminho quando deu de caras com um paroquiano conhecido, parou a geringonça:

-Ó Gastão anda comigo até Alvarenga.

-Mas ó Sr. Abade (era assim que na terra era tratado), agora não me dá muito jeito…

-Anda daí, insistiu o cura. Até que Gastão para ser agradável lá foi no lugar do morto. Acresce aqui dizer que o Sr. Abade não tinha grandes dotes de boa condução, a estrada era toda dele, daí a temerária hesitação do companheiro de viagem. A determinada altura vinham carros em sentido contrário, Gastão ao ver o perigo eminente disse numa atrapalhação com as mãos na cabeça:

-Cuidado Sr. Abade, olhe que vai no meio da estrada, desvie-se para a direita… A resposta prepotente do rei da estrada, assim se julgava, indiferente ao perigo:

 - Eles que se arrumem!... Foi a resposta do desarrumado.

Gastão, que foi um dos prisioneiros de guerra a quando da invasão indiana a Goa em 1961, contou-me a peripécia com um suspiro profundo “safa, boleias destas não quero mais”.

 

 

  (antonio)

Ainda a manif de 2 de Março

Nunca pensei ver-te na manifestação”. Foi assim que alguém que certamente passou os olhos aqui pelo blogue comentou  a minha aderência à manif. Será que esse alguém me visionou na TV no meio de milhares? – “Onde está o Wally?” Não acredito.

Eu tinha dito que iria fazer número na rua e fui bem claro que a minha contestação não era só contra Passos, mas também contra todos os governos que após o 25 de Abril de 1974 deixaram a coisa descambar – não me podem acusar de ser sectário.

Foi pois a minha presença, de um não alinhado com qualquer cor partidária. E penso que é uma mais valia nos tempos que correm!...Quem me conhece sabe que não tenho feitio para ir a uma manif chamar mentirosos, troca-tintas, gente sem ética e outros impropérios àqueles que actualmente têm na mão as rédeas do poder. Mas no meu subconsciente sou levado a interiorizar esses slogans.

Posso pois dizer que fiz parte daqueles que também silenciosamente (não confundir com a manifestação “maioria silenciosa”, dita reaccionária do PREC) manifestaram a sua indignação pelo falso rumo de políticos incompetentes que dão pancadinhas nas costas a gente do alto capital por um lado e por outro lixam o povo. Que os lixados não sejam de memória curta nos actos eleitorais, é o que se deseja. Mas que venha o diabo e escolha também me apetece dizer!...

 

  Ant.Gonç. (antonio)

Pela ruralidade - CXXIX(Cuidar do ambiente)

Acudam que aí vem lobo, se não vem é como se viesse, eram os gritos lancinantes quando o “vermelho” aparecia a lavrar na mata em plena canícula.

Estou a falar do meu tempo de menino e moço lá na terra que quando surgia este destruidor, leia-se incêndio, tão malévolo como o lobo que dava cabo dos ovis, todo o mundo se munia de foices, podões, engaços, enxadas, ancinhos, baldes e se metiam a caminho para o combater quer fosse na serra ou em alguma casa. O alerta era dado pelo sino do campanário, pois havia sempre um mais lesto que disso se incumbia, repicava o sino freneticamente.  Agora, mutatis mutandis, fica tudo a olhar à espera que os bombeiros de Nespereira façam o seu trabalho, e de nariz no ar a verem o heli ou o avião que mandam lá de cima umas descargas de água.

É certo que no passado as matas andavam limpas, era aproveitado o mato para as cortes dos animais e biologicamente estrumavam-se as terras. Por outro lado havia mais gente braçal nas aldeias e sobretudo estava enraizado um espírito comunitário de ajuda que actualmente se esfumou.

Mas vamos então dizer ao que venho.

O meu eucaliptal tinha sido cortado há cerca de dois meses,  os toros foram  encaminhados pelo negociante de madeiras para as celuloses, mas toda a ramaria ficou espalhada pelo terreno. Ora foi então necessário eliminar agora nesta época de calmia toda essa potencial matéria que seria altamente combustível na época crítica dos fogos.

Quatro maduras habituadas a este tipo de trabalho, que não se abrigam sob o guarda-chuva do rendimento social de inserção, sob minha orientação começaram a juntar e queimar para o terreno ficar limpo desse material sobrante, tem sido trabalho de alguns dias e ainda não está finalizado. E assim quando aparecerem os rebentos das tocas, também se diz tocos, dos eucaliptos cortados, crescem livres de estorvos e sem matéria inflamante por perto. E se duma cajadada se podem matar dois coelhos, então vamos nessa,  também está a ser feito o aproveitamento de alguma lenha mais grossa nomeadamente das coruchas, que dá muito jeito para o recuperador de calor durante os meses de temperaturas baixas. A motosserra esteve em acção para os paus maiores  nas mãos do Artur, bem caçado neste tipo de serviço.

O trabalho está a ser feito, a natureza vai sendo cuidada, agora é esperar que se desenvolva naturalmente livre do perigo maior que a possa apoquentar, o fogo (vermelho, como se diz lá na terra).

 

  Ant.Gonç. (antonio)

Olhar o Porto - CLXII(O povo do Porto)

Dei comigo a magicar há quantos anos eu não ia a uma manifestação. Tive que recuar aos tempos do PREC se a memória não me atraiçoa.

Eu fui educado que não é de bom tom chamar mentiroso, aldrabão, gatuno a pessoas ou figuras que representam. Mas actualmente sou violado nos meus sentimentos se não me desligar desse modo de estar educativo em relação ao actual governo. É que estamos de facto entregues a governantes que não têm credibilidade. Veja-se até os comentadores televisivos Marques Mendes e Marcelo R. Sousa que são da área do PSD e têm dado porrada nas atitudes/medidas do governo de Passos.

As grandiosas manifestações que hoje tiveram lugar por todo o país são uma mostragem que o povo está descontente. Não me choca nada que entre os inúmeros cartazes criativos contra esta política/troika, houvesse uma jovem que ostentava numa vara um coelho de peluche enforcado.

A manifestação do Porto onde me incorporei tem todos os condimentos para fazer o governo arrepiar caminho. É certo que o dito anda acagaçado, veja-se que tinha programado dizer até ao fim de Fevereiro onde seriam os cortes dos quatro mil milhões e deixou para mais tarde com receio de dizer antes das manifs.

Gente de todas as idades deu hoje provas que este governo não interessa. Fiquei muito emocionado com a entoação em uníssono da “Grândola, vila morena”.

 

  (antonio)

Olhar o Porto - CLVIII(Notas dum passado recente)

Nos anos setenta do século passado eu gostava de ler à segunda-feira a última página do JN onde vinha uma resenha sobre o ensino no 1º ciclo. Era a “semana escolar” da autoria de Vale de Passos. Tinha uma parte descritiva sobre regulamentos e outra em que respondia a eventuais dúvidas colocadas pelos leitores normalmente professores.

Mas nos anos oitenta havia já também outros interesses que me despertavam a leitura do citado jornal. Estou a referir-me por um lado aos trabalhos de cultura histórica sobre o Porto de Alfredo Natal e por outro às investigações jornalísticas de casos sonantes de gente que se não era de colarinho branco andaria perto, de Aurélio Cunha.

Se o primeiro é um amigo e colega de curso de longa data, já Aurélio Cunha de quem só conhecia as reportagens bombásticas no JN, algumas fizeram rolar cabeças, passe o eufemismo, fiquei também amigo a partir do momento em que me cruzei com ele no ginásio que frequentamos.

Posso dizer que foi com os trabalhos de Natal que comecei a ter algum conhecimento e gosto sobre o Porto antigo, pois até aí andava tapadinho. Mais tarde com os passeios à cidade com Hélder Pacheco, Júlio Couto, Germano Silva e também agora com Joel Cleto no Porto Canal, fui sucessivamente apanhando mais saberes, e neste aspecto há sempre uma esquina a descobrir atrás de outra, cada cavadela cada minhoca. A CMP no passado oferecia aos munícipes uns passeios culturais à cidade com os dois primeiros que referi, mas isso parece que foi chão que deu uvas, está tudo nas lonas, e a cultura é a primeira a ficar secundarizada. O JN colmatou esse vazio e ainda bem, pois com a FNAC e a publicidade do Porto Canal têm sido realizados interessantes passeios à cidade  orientados por Germano Silva e refrescados com o acompanhamento do rancho folclórico do Porto que tem à frente outro conhecedor da cidade António Fernandes de raízes cinfanenses mas com o cordão umbilical cortado. Têm a mais valia de serem também umas caminhadas no último domingo de cada mês. E como é agradável andar pela cidade saboreando a calmaria das manhãs domingueiras!...

 

    (antonio)

Pela ruralidade - CXXVII(momentos no seminário)

Já por aqui falei nas peripécias do puto que foi estudar p´ra padre mas que desafinou e saiu em boa hora. Agora à distância parece-me que me foi proposto mudar de rumo, que não teria vocação.

O puto, agora crescido e de que maneira, que foi sempre mais para o introvertido, escarrapacha aqui a sua vida sem complexos.

Da minha permanência pelo seminário guardo ainda episódios clonados da “Manhã Submersa” do autor Virgílio Ferreira que já li há uns anos e também visionei no écran.

Os acontecimentos hétero, homo e pedo que têm surgido com eclesiásticos parecia que se estavam a dar longe, mas agora estão também entre nós, e escaldantes. O que sucedeu no séc. XV com o padre de Trancoso, que metia a grila em tudo quanto era racha, o homem devia ter hormonas testiculares ao rubro, fez história. Um tal padre Frederico, que teve a cobertura do bispo do Funchal da altura, é bom lembrar, foi condenado e deu de frosques para o Brasil, também foi uma mancha que a igreja carreou. Estes foram casos badalados, outros houve de capa e batina que até tiveram parangonas no JN, há cerca de um ano aqui na cidade do Porto mas que ficaram silenciosos, pelo menos nunca mais se soube de nada. E agora mais uma acha para a fogueira, a antiga provedora da Casa Pia diz que há cinco (cinco? É uma percentagem demasiado alta, se bem que um já seria muito mau) padres pedófilos em Lisboa,(JN). Não venham arranjar desculpas dizendo que uma andorinha não faz a Primavera, nem assobiar para o lado. O representante da Conferência Episcopal perante o que diz a senhora, veio a terreiro,  com a saliva no canto da boca não me convence, em vez de investigar o comportamento dos seus pares limita-se a dizer que ela prove o que diz. Ora todos sabemos que denunciar alguém mesmo com provas evidentes é complicado,  como já tem acontecido poder-se-á virar o feitiço contra o feiticeiro. Lagarto, lagarto, ser condenado por atentado ao bom nome(?) é o que se tem visto.

Mas vamos então às minhas memórias de seminarista. Vamos dar de barato o excesso de zelo que nos era determinado de ao deitar e levantar tirar ou enfiar as calças debaixo dos lençois. Como éramos internos quando se aproximava a altura de ir de férias para as terras de cada um, eramos reunidos num anfiteatro onde um padre, creio que director espiritual ou coisa no género nos fazia uma lavagem ao cérebro sobre encalços que existiam na sociedade, entendam-se que seriam os perigos femininos. O voto de castidade estava já aí a nos ser interiorizado. A televisão tinha dado os primeiros passos, estávamos em 1958, e na cabeça do tal director espiritual era potenciadora de perigos (certamente caras bonitas femininas a aparecer no écran já seria perturbador para as mentes dos seminaristas). A páginas tantas há um dos nossos que levanta-se e perguntou se podia ver a televisão que o pároco da terra tinha instalado na casa paroquial. A resposta veio, mesmo nessa situação deves-te abster de ver, há sempre perigos escondidos. Era sempre a espada de Dâmocles em riste, dos perigos e sempre os perigos!... Bem, depois destas recomendações sobre a perigosidade que os jovens iam encontrar, era-nos metido na mão um envelope onde ia um questionário sobre o nosso comportamento nas férias que era entregue ao pároco da terra para preencher e depois fazer seguir para o seminário (tenho pena de não ter guardado um).

Quando dei o fora senti um certo alívio mental, aquele círculo fechado poder-me-ia no futuro causar reacções perturbadoras.

 

  ver também;http://magisterio6971.blogs.sapo.pt/383988.html

 

PS: Quem me elogiar as atitudes eclesiásticas perde tempo. Tal como nos partidos politicos a igreja funciona em circulos fechados, ora vejamos ainda sobre os casos tristes que têm acontecido com o clero. O eminente arcebispo de Braga quando era presidente da conferência episcopal recebeu a ex-provedora da Casa Pia que lhe manifestou preocupação por casos de pedofilia no clero lisboeta. O que fez o senhor arcebispo? Fez de conta, dizendo à senhora que ela se tinha casos concretos devia denunciá-los. Então não deveria o senhor presidente da conferência episcopal ser ele a interessar-se, com o poder que tem, a fazer investigar casos tão ignobis no seio da sua igreja?!...

 

  Ant. Gonç. (antonio)

Olhar o Porto - CLVI(Não gosto de dar a moedinha)

Nos anos setenta do século passado ainda não se falava em arrumadores de carros no sentido que hoje lhe damos. Se bem me recordo havia sim um ou outro arrumador com um barrete que na paleta ostentava em material rígido “arrumador”, penso que eram autorizados pela CMP. Das minhas memórias recordo um que tinha local de trabalho  em Santa Catarina junto ao hotel e à antiga Confiança. A proliferação de gente descamisada e do submundo citadino que tomaram conta dos espaços de parqueamento exigindo a moedinha, veio para ficar.

Aqui no Porto, o actual presidente da câmara, por quem não nutro simpatia por aí além mas o contrário também é válido, no primeiro mandato juntamente com o vereador Paulo Morais tentou regularizar esta situação de chantagistas. Na altura o governo socialista tudo fez, nomeadamente com cortes de verbas, para não ir para a frente o projecto que era louvável. Os jogos do poder  com sacanices à mistura entre os maiores partidos são revanchistas. Aqui neste caso os socialistas vingaram-se, digo eu,  do poder camarário lhes ter fugido das mãos.

Eu não gosto de ser pressionado e chantageado por essa gente que se intitula arrumadores.  Quando pretendo estacionar o carro e vejo ao longe um desses, dou meia volta e sigo para outro destino. Posso então dizer que não alimento essas situações anómalas onde a prepotência dos ditos parece que faz lei. Só uma vez fui levado,  passo a explicar. No Passeio das Virtudes estacionei o carro num espaço vago quase  em cima de uma curva. Ali à beira estava um indivíduo de porte normalíssimo a limpar um carro, morador por ali pensei eu. Quando estacionei olho para o fulano e numa de falar por falar interpelei-o: aqui não haverá problema, pois não?

-Não, não, está muito bem, disse-me o sorridente polidor. Fui de imediato assediado, arranje-me uma moedinha para… Perante isto não tive coragem de dizer não, e lá tive que levar a mão ao bolso.  Fiquei lixado, mas de certo modo auto desculpado, as circunstâncias favoreceram a escorregadela a que me vi forçado.

 

   Ant. Gonç. (antonio)

Olhar o Porto - CLV(A praça da Batalha)

 

Em Outubro de 1981 dizia o meu caro amigo Alfredo Natal, na altura jornalista do JN : o Porto, a “mui nobre sempre leal invicta cidade” tem a beleza austera do granito, que impera na sua paisagem e arquitectura, apesar de ser constantemente destruída por obra dos homens. Empregava também conceitos  como: florestas de betão; progresso balofo; pseudo-modernismo; edifícios incaracterísticos, etc.

 

Com estas verdades actualizadíssimas, digo que há praças e ruas da cidade que fazem parte das nossas memórias, quer pelas tradições históricas que englobam como também pelo calcorreamento que pessoalmente lhe damos. Estou a falar de locais, uns que mantêm o charme de sempre  outros que viraram para situações mexerucas. Destes últimos quero referir a Praça da Batalha que emana uma tristeza confrangedora. É que nem o teatro S. João safa aquela praça que desde que me lembro teve várias intervenções de fundo e todas resultaram em fracasso. Da última vez que o camartelo e a sua partner picareta por lá andaram sob a batuta de arquitecto de nomeada, este entendeu que a cereja em cima do bolo seria construir um lago de bom mármore. Sim, porque as grandes intervenções na cidade são sempre anunciadas e finalizadas com bajulação, pomposamente riscadas por arquitecto X. Pois passados dez anos o lago continua seco, e com lixo, até que agora já está um bocado maltratado, grelhas pifadas e mármore esbotenado.

Mas a cegarrega  não fica por aqui. Há que lembrar que a intervenção anterior a esta andou pelo mesmo diapasão. Tinha sido feito  também um pequeno lago,  até penso que eram dois, mais ou menos em frente às portas do cinema Batalha e que também nunca teve água, até que mais tarde os serviços da CMP resolveram aterrá-lo e plantar lá umas palmeiras.

D. Pedro V  sofre com todas estas malfeitorias, veja-se que na última intervenção até foi mudado meia dúzia de metros para sul!... Não havia necessidade de tanta trabalheira despesista para mudar o imponente pedestal. Nunca percebi, até porque encontrava-se no centro da praça. Ele que morreu jovem, amou o Porto e foi reconhecido, está agora rodeado por árvores desadequadas ao local,  cada uma a mais torta, e um eirado de cadeiras agarradas ao chão com utentes de extracto social muito fragilizado. E já agora, canteiros ajardinados, vai no Batalha!…

É certo que o palacete onde funcionaram os correios e também os cinemas davam algum frenesim à citada praça, mas agora estão às moscas, é pena, tudo assim ajuda à tristeza que a praça da Batalha encerra. Diz-se que o  palacete foi vendido para ser hotel low-coast, mas já há na cidade hostel´s a dar com um pau!... .

Já há uns tempos me tinha referido a esta praça, agora voltei, espevitado por amigo do tempo da tropa em Angola que veio ao Porto, é de Lisboa, com quem almocei. Da breve estadia dei-lhe umas dicas sobre a cidade onde já tinha estado há uns anos. Foi sintomático que me tivesse dito que não gostou de ver praça da Batalha tão macambuzia. Outro olhar deste amigalhaço foi que encontrou o casario da cidade muito degradado. Em Lisboa também isso acontece, disse-lhe eu. Mas aqui acho mais envelhecido, reforçou.

 

  Ant. Gonç. (antonio)

Pela ruralidade - CXXVI(O beijo do cura)

Umas cenas gaudiosas que não presenciei mas que de fonte segura são verdadeiras no essencial passo a descrever.

O protagonista do enredo já não está entre nós, era o pároco de Fornelos – Cinfães. É sabido que os padres, apreciadores da boa e farta mesa não eram dados a dietas, bem pelo contrário eram mais pela gula. Não é por acaso que se diz ainda hoje: comezaina à farta abades.

Bem, mas vamos ao pitoresco da cena. Lá pelos anos setenta do século passado o fogoso senhor abade, como por lá era designado, não se fez rogado quando foi convidado para um  casamento cujo banquete foi realizado lá para os lados de Arouca.  Até aqui está tudo consentâneo com o que atrás disse, a meio da comezaina havia, e parece que ainda há, o hábito de bater com os talheres nas mesas para o par dos recém-casados se beijarem. Tudo bem, mas a seguir vinha o melhor, então havia sempre uns malandrecos galhofeiros que com bom vozeirão atacavam:

- Agora é fulano com fulana, normalmente casais, e em caso de resistência a garfaria fazia barulho até verem a beijoca que já não seria dada pelo par, geralmente entradotes, sabe-se lá há quanto tempo!...

As brincadeiras iam correndo e o abade aparentemente ia alinhando na galhofa mas já um bocado receoso que chegasse a sua vez, até que:

- E agora vai ser o senhor abade com fulana (uma santaneira, voz conhecida no canto à hora da missa,  quarentona em bom estado geral, viúva da guerra colonial, foi receptora de uma medalha de cruz de guerra de 1ª classe, em grande parada militar no Terreiro do Paço,  pela bravura em acções de campanha em Angola contra os turras, do falecido marido; não voltou a casar até para não perder a tença que o Estado lhe dava pela morte do militar; andava muito pela igreja a limpar as chagas de S. Sebastião  e no altar ao lado adorava afagar a tanga do esbelto S. João que carregava o cordeiro), berrou lá do fundo um já bem comido e melhor bebido com as faces já bem rosadas da pinga. A risota foi geral, até o sacristão parente dos noivos, a quem nunca se tinha visto a tacha arreganhada, tinha tangido o sino no campanário quando os noivos deram o nó, estava em gargalhada despegada com a dentadura já bem desfalcada e a sobrante cor de funeral. O batuque era ensurdecedor com a garfaria a bater nos pratos perante a hesitação do padre que se torceu na cadeira, engoliu em seco, embora ainda com um sorriso nervoso amarelado, não teve chance, lá deu um beijo insípido na amiga da igreja que não estava  ao seu lado para não dar nas vistas, estava por perto. Mas o pessoal é que não ficou pelos ajustes. Voltou à carga e em uníssono:

 “Queremos melhor”, “Queremos um beijo a sério”, “Festa é festa senhor abade” dizia o pai da noiva, “Um beijo molhado” incitava o sorrelfa mulherengo ferrador que calçava a égua do padre antes de ter o quatro rodas. Só a Miquinhas governanta da residência paroquial e beata mor lançava as mãos à cabeça e exclamava: abrenúncio, o que estão a dizer ao senhor padre!... Também o agiota falsário merceeiro para não perder o bom cliente que era o cura, estava numa de nem vou lá nem faço minha.

Até que o curador de almas, se tivesse um buraco no chão enfiava-se, ganhou coragem e numa fuga para a frente se não mandou um beijo na boca da parceira, andou por lá perto.  O lingrinhas Zé da Toca, irmão da noiva, alcoviteiro até mais não, afirmava a pés juntos que tinha visto um beijo dos bons,  era um troca tintas a quem não se podia dar muito crédito, mas como ele jurava a pés juntos!…

Mais tarde o cura ao ser interpelado pelo sucedido comentou este episódio dizendo: “em público é feio”. E agora cada um dos leitores fará a interpretação que entender, eu já fiz a minha, mas fico-me por aqui!... Já outros, os nossos célebres escritores nomeadamente Camilo, exploraram bem a castidade formal dos eclesiásticos.

 

  Ant.Gonç. (antonio)