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Magistério6971

Os autores deste jornal virtual apresentam a todos os visitantes os seus mais cordiais cumprimentos. Será bem-vindo quem vier por bem.

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Mestre-escola e professor primário II

Vamos dar continuação ao artigo com o título supra citado, dos finais do século XIX, no semanário Educação Nacional:

 

 

"Mas ninguém como o mestre de primeiras lettras atentava mais directamente contra a bestialidade contumaz dos que compunham as multidões. A ignorância é ousada e o mal é pertinaz. A revolta é o que se depara logo a quem se propõe suprimir estas coisas irritantes. Mas abstrahindo de toda a idea de mal, que com ignorância melhor se casa, o saber devia de ser qualquer coisa, de diabólico que podia subverter o mundo e por isso os sábios eram estranhos seres que pactuavam com o demónio. Vencida alfim essa noção falsa, ainda ficava a rebeldia aos hábitos de polidez de hygiene e de disciplina que a educação traz comsigo.  As paixões presentem vivamente o que as há de contrariar, e os hábitos de infância ficam verdadeiras paixões. No typico mestre-escola, sem sciencia e sem orientação, anteviam as multidões a revolução pedagógica que havia de atingi-las. E reagiam, irritavam-se, vingavam-se com fúria no pobre ser faminto, miserável e bufão, que em tristonhos pardieiros ensinava a ler meia dúzia de creanças, filhos de paes corajosos e já de ambições mais altas, ou porventura de ideas fundamentalmente progressivas.

Passaram-se os tempos. Generalisou-se mais a vontade de aprender, excepção de aldeias sertanejas, onde o abandalhamento é a lei, e onde a civilização provoca protestos e risos de rude violência. Mas procura-se na escola só a instrução, que se julga propicia a todos carreiras dinheirosas, e reage-se ainda com energia contra os preceitos educativos que já cuidadosamente ministram os que ensinam com zelo. O mestre-escola deu logar ao professor primário, entidade preponderante da civilização moderna, a primacial, a merecedora de considerações maiores, de mais calorosas gratidões pelo menos.

Vós, literatos, jornalistas, gazetilheiros joviaes, comediógrafos e revisteiros facetos, todos os que ainda trataes desprezivamente, o educador modesto da infância, e lhe chamaes desdenhosamente mestre-escola, não o conheceis de certo, o professor primário, esse profissional consciente e zeloso, a quem principalmente se devem os progressos de há anos realizados na sciencia pedagógica. Porque se a escola fez a elle é elle quem faz a escola. Começa a sua carreira cruel já com um solido curso, o qual tendo uma forte especialização, avulta muito também em ideas geraes,haje indispensáveis. Depois o laborioso propagador da instrucção do povo, ganha amor ao ensino, a praticar vae-lhe melhorando os processos, disciplinando-lhe o methodo, trazendo-lhe verdades novas, uteis, fecundas, e a escola apura-se, a instrução desenvolve-se, define-se rigorosamente no meio social a nobre instituição que tem por fim educar os povos, chamar os homens todos à santa comunhão dos ideaes melhores, mais impulsivos e claros.

Dignidade não falta a este valido obreiro da escola. Sabe-se como o estado remunera os seus altos serviços, escassamente, quasi  deshumanamente, e ve-lo-heis sempre trajar decente, com decoro e com modéstia. Apresentação correcta, nas relações escrupuloso, só quanto às qualidades de caracter e de educação das pessoas entende-se, a moralidade austera, e é uma creatura torturada quasi sempre, todo o proceder duma lisura firme, completa, surpreendente. Espelho de virtudes cívicas, sociaes e domesticas, o professor primário é bem um sacerdote da civilização, sente vivamente que a cruzada que exerce é com efeito a de mais alta benemerência nos destinos humanos."

 

 

  Ant.Gonç.(antonio)