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Magistério6971

Os autores deste jornal virtual apresentam a todos os visitantes os seus mais cordiais cumprimentos. Será bem-vindo quem vier por bem.

Magistério6971

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Para lembrar

No Eixo do Mal na Sic Notícias

 

Sobre as responsabilidades do primeiro ministro Aníbal Cavaco e Silva, actual P.R., no desmantelamento da nossa indústria, pescas e agricultura: Cavaco Silva rodeou-se de ministros  (citou nomes)que foram uma escumalha governativa, uns estão presos outros estão ao fresco.

 

 

     (antonio)

Mestre-escola e professor primário III

Finalização do artigo supra citado publicado nos finais do século XIX no semanário "Educação Nacional":

 

"O que convém mais frizar aqui é que o professor primário é essencialmente estudioso. As sciencias interessam-no e todos os grandes aspectos da civilização attrahem o seu espírito. É um homem verdadeiramente moderno, pela cultura e pela orientação. E vivendo assim, de honorários tão parcos, custará acreditar que este trabalhador prestimoso compre livros e assigne jornaes, vendo.se-lhe em casa uma modesta estante bem fornecida, com trabalhos didieticos sólidos, com produtos sublimes de alta literatura. Como todos os que vão para a frente, para a luz, o professor primário procura o estímulo da idea, o lenitivo do bello. Chrisalidas de onde hão-de sahir depuradas todas as almas, fortes no summo bem, na plena justiça.

Trabalhador, não há no país funccionário mais diligente, mais escravizado ao dever. Ninguém sabe quanto é rude, quantas vezes escuramente desconsoladora, essa tarefa larga do ensino de creanças, senão a creatura que a exerce. Mas activo e resignado, como preceitua a melhor filosofia, é assim que o professor primário vae com a luz da sua alma alumiando muitas almas, com a sua vontade preparando outras vontades, com o seu amor aliciando corações, e sempre à sua fá robusta attrahindo novos crentes. Porque o seu zelo não se exerce só no penoso trabalho que lhe cabe. Faz sua a grande causa da instrução do povo, e por todos os modos a serve e por todos os seus aspectos fortalece. Escolas há que não teriam frequência sem a  sua tenacidade de propaganda. Emfim, está bem no domínio da verdade a afirmativa de que todo o moderno processo da escola popular, de Portugal se fala somente, compreende-se, deve-se ao professor primário principalmente.

Está-se bem longe, pois, do mestre-escola, de desopinante tradicção. Porque há excepções desairosas, não se leia queo professor primário em Portugal está ainda afastado dos traços que ahi ficam mal debuxados. Na sua maioria, esses que abrem ao povo o caminho melhor da vida, são o que revelam essas palavras pobres mas justas.  Maravilha, não é verdade, tanta dedicação e tanto zelo, tanta coragem?! E quem há-de regenerar Portugal há-de ser o professor primário; elle é quem há-de restituir à nossa velha nação o seu bom nome de outrora, esse nome fulgente por todo o largo mundo conquistado por feitos famosos de vantagens para a civilização. Que o modesto servidor da escola popular cada vez melhor preencherá, principalmente impelido dessa sua devoção própria tão relevante e tão nobre, a missão levantada a que foi chamado, e que é com preito a de fazer entrar o seu país no caminho do progresso justo e extensamente libertador."

 

 

        (antonio)

 

 

 

 

Nem burro nem vaca

Há quem não se sinta à vontade para criticar, ou melhor, ter uma opinião, sobre o que acontece de errado na religião que professa ou no partido político que abraça com fervor, até parece que as pessoas ficam cintadas com um colete de forças.

Agora, ora vejam lá, diz o Papa que o presépio nunca teve burro nem vaca!... Quase que me apetece dizer: que quantidade de asnos  andaram a iludir as pessoas com estas burrices! Então só agora é que houve estas descobertas?

Ai minha nossa, e se aparece um Papa a dizer que Fátima foi uma fabricação dos homens? O padre Mário de Oliveira já há muito que diz isso. Lá se ia o comércio chinês  à volta do santuário...

 

    (antonio)

Pela ruralidade - CXXVI(O beijo do cura)

Umas cenas gaudiosas que não presenciei mas que de fonte segura são verdadeiras no essencial passo a descrever.

O protagonista do enredo já não está entre nós, era o pároco de Fornelos – Cinfães. É sabido que os padres, apreciadores da boa e farta mesa não eram dados a dietas, bem pelo contrário eram mais pela gula. Não é por acaso que se diz ainda hoje: comezaina à farta abades.

Bem, mas vamos ao pitoresco da cena. Lá pelos anos setenta do século passado o fogoso senhor abade, como por lá era designado, não se fez rogado quando foi convidado para um  casamento cujo banquete foi realizado lá para os lados de Arouca.  Até aqui está tudo consentâneo com o que atrás disse, a meio da comezaina havia, e parece que ainda há, o hábito de bater com os talheres nas mesas para o par dos recém-casados se beijarem. Tudo bem, mas a seguir vinha o melhor, então havia sempre uns malandrecos galhofeiros que com bom vozeirão atacavam:

- Agora é fulano com fulana, normalmente casais, e em caso de resistência a garfaria fazia barulho até verem a beijoca que já não seria dada pelo par, geralmente entradotes, sabe-se lá há quanto tempo!...

As brincadeiras iam correndo e o abade aparentemente ia alinhando na galhofa mas já um bocado receoso que chegasse a sua vez, até que:

- E agora vai ser o senhor abade com fulana (uma santaneira, voz conhecida no canto à hora da missa,  quarentona em bom estado geral, viúva da guerra colonial, foi receptora de uma medalha de cruz de guerra de 1ª classe, em grande parada militar no Terreiro do Paço,  pela bravura em acções de campanha em Angola contra os turras, do falecido marido; não voltou a casar até para não perder a tença que o Estado lhe dava pela morte do militar; andava muito pela igreja a limpar as chagas de S. Sebastião  e no altar ao lado adorava afagar a tanga do esbelto S. João que carregava o cordeiro), berrou lá do fundo um já bem comido e melhor bebido com as faces já bem rosadas da pinga. A risota foi geral, até o sacristão parente dos noivos, a quem nunca se tinha visto a tacha arreganhada, tinha tangido o sino no campanário quando os noivos deram o nó, estava em gargalhada despegada com a dentadura já bem desfalcada e a sobrante cor de funeral. O batuque era ensurdecedor com a garfaria a bater nos pratos perante a hesitação do padre que se torceu na cadeira, engoliu em seco, embora ainda com um sorriso nervoso amarelado, não teve chance, lá deu um beijo insípido na amiga da igreja que não estava  ao seu lado para não dar nas vistas, estava por perto. Mas o pessoal é que não ficou pelos ajustes. Voltou à carga e em uníssono:

 “Queremos melhor”, “Queremos um beijo a sério”, “Festa é festa senhor abade” dizia o pai da noiva, “Um beijo molhado” incitava o sorrelfa mulherengo ferrador que calçava a égua do padre antes de ter o quatro rodas. Só a Miquinhas governanta da residência paroquial e beata mor lançava as mãos à cabeça e exclamava: abrenúncio, o que estão a dizer ao senhor padre!... Também o agiota falsário merceeiro para não perder o bom cliente que era o cura, estava numa de nem vou lá nem faço minha.

Até que o curador de almas, se tivesse um buraco no chão enfiava-se, ganhou coragem e numa fuga para a frente se não mandou um beijo na boca da parceira, andou por lá perto.  O lingrinhas Zé da Toca, irmão da noiva, alcoviteiro até mais não, afirmava a pés juntos que tinha visto um beijo dos bons,  era um troca tintas a quem não se podia dar muito crédito, mas como ele jurava a pés juntos!…

Mais tarde o cura ao ser interpelado pelo sucedido comentou este episódio dizendo: “em público é feio”. E agora cada um dos leitores fará a interpretação que entender, eu já fiz a minha, mas fico-me por aqui!... Já outros, os nossos célebres escritores nomeadamente Camilo, exploraram bem a castidade formal dos eclesiásticos.

 

  Ant.Gonç. (antonio)

 

Ideias soltas

- Marcelo Rebelo de Sousa saiu-lhe o tiro pela culatra com aquele vídeo publicitário que no entender dele era para promover Portugal na Alemanha. Os alemães fizeram-lhe nega e penso com razão. Não nos soubemos governar e então agora a tentar arranjar justificações. Sugiro o visionamento do vídeo no youtube.

 

- Merkel veio a Portugal em visita relâmpago. Antes da vinda os comentadores eram ácidos para com a senhora e quem ela representa. Após a chegada tudo ficou com a bolinha baixa. Medina Carreira corta a direito e não gagueja, a culpa do que se está a passar é do governo anterior em que era sempre abrir com despesismos megalómanos.

 

- Hoje dei uma volta pela cidade e às tantas ia com uma fezada de verter águas no Vespasiano que sempre existiu no largo Soares dos Reis. Mas cheguei lá e nicles, foi simplesmente retirado como já foram outros que havia na cidade que assim sofreu mais uma cilindrada nas tradições.

 

 

      (antonio)

Tempo de desfolhada

Umas das últimas práticas comunitárias, nas aldeias de Arouca – as desfolhadas têm vindo, ao longo dos anos, perdendo todo o encantamento, tal como tantas outras actividades agrícolas.


Consiste em retirar o folhelho às douradas espigas de milho.


Nas tradicionais desfolhadas todas as fainas exigiam grande esforço, o trabalho era árduo e cansativo somente minorado pela ajuda recíproca dos vizinhos, amigos e familiares onde não faltavam animados momentos de convivialidade.
À roda de uma enorme pilha de espigas, em espaçosas eiras, homens, mulheres e crianças, cantando e contando histórias de pasmar, lá iam despindo as maçarocas dos embaraçosos folhelhos. Atiradas para grandes gigos, eram de seguida, alombadas por robustos homens e mulheres, até à última morada – os canastros (espigueiros).


Durante a desfolhada a animação era constante. O aparecimento de espigas de milho vermelho era a

tradição mais emblemática e uma das surpresas que todos esperavam com ansiedade. É que o(a) feliz contemplado(a) teria de distribuir forçosamente beijos e abraços a todos os presentes. Para os mais retraídos a tarefa não era fácil, no entanto os atrevidos, aproveitando-se da sorte e oportunidade única, davam um abraço mais apertadinho e um beijo mais repenicado à sua amada ou amado sem serem chamados à atenção. Alguns espertinhos, ávidos dessa diversão, já traziam de casa as cupidas espigas.


E as surpresas não se faziam esperar. Os serandeiros, qual gente alegre e divertida, lá faziam a sua aparição, sendo entusiasticamente recebidos pelas moçoilas, que roídas de paixão, também viam aí uma oportunidade de extravazarem os seus sentimentos sem que os pais se apercebessem. Mascarados dos pés à cabeça, o objectivo era enganar aqueles que exerciam vigilância acérrima sobre as filhas casadoiras, mantendo-as protegidas de conversados indesejáveis, até ao casório. Nem sempre o disfarce corria bem. Quando descobertos, a pancadaria não se ficava pela metade.


Trabalho executado era hora de lazer. A tão apetecida bucha era posta em comum – broa acabada de sair do forno, azeitonas, figos secos e um bom vinho para aquecer a alma.


Iniciavam-se então os tradicionais jogos relacionados com esta actividade – a sapata e o avião.


Finalmente a remaldeira já se fazia ouvir aproximando-se cada vez mais da eira. Tocadores de concertina, viola e cantadores, faziam a sua entrada triunfal, animando a festa com as suas alegres canções. Os/as dançarinos(as) saltavam para a pista e até os mais velhos, fazendo frente às artroses que rangiam ruidosamente ao som da música, não deixavam de dar o gosto ao pé. No final da festa já com um grão na asa, alguns tentavam cantar ao desafio desafiando o adversário com assuntos inoportunos. Mas tudo ficava bem, pois a resposta não se fazia esperar.
Em casa dos meus avós e vizinhos tive o privilégio de participar em algumas desfolhadas. Não só colaborei como vivenciei algumas das actividades e brincadeiras.


Actualmente, toda esta prática que o Homem criou ao longo de muitos e muitos anos, já não se realiza, pertence infelizmente ao passado. Por isso sinto-me feliz por deixar aqui o meu relato, com conhecimento de causa, e poder contar aos meus vindouros que, antigamente, mormente as dificuldades e privações que os nossos antepassados eram obrigados a enfrentar tinham sempre a capacidade de gerir e contornar todas as situações, com alegria, boa disposição e principalmente muita sabedoria.

 

Benilde

Pela ruralidade - CXXV(Pelo campo)

Diz-se que o homem está sempre a aprender nos mais variados aspectos da vida. Sou daqueles em que este aforisma encaixa perfeitamente e tenho até a humildade de estar receptivo a dicas que outros me sugerem.

No campo que dá apoio à casa lá na terra, no passado anterior aos anos setenta era terra de pão, dava alguns carros de milho. Depois disso como essa cultura já não compensava, plantei lá árvores de fruto para consumo caseiro. À boa maneira antiga, ainda os meus neurónios tinham subjacente que as culturas arbóreas ficavam nas bordaduras dos campos, tinha plantado, há dois anos, nestas condições, três macieiras (espriega ou reinette, starking, e costa nogueira, esta de variedade regionalíssima) e uma ameixoeira (rainha cláudia).

Fui-me adaptando e consequentemente alterando o “modus faciendi” resolvi transplantá-las para a centralidade do campo, assim fazendo companhia enfileirada a outras. Estavam já há uns tempos feitas as covas onde se tinha misturado estrume com terra e então agora foi a vez da transplantação. Eu e a minha colaboradora que é pessoa que percebe da poda, tivemos o máximo cuidado de as tirar com alguma terra no sistema radicular para que não estranhassem muito o novo poiso. Terra para a cova, bem calcada, e como mandam as regras do bom transplante, uma rega. Depois vamos estar atentos à rebentação lá para Março. A minha colaboradora foi peremptória: elas não devem estranhar a mudança, pois levaram “merenda”, leia-se torrão, enquanto as raízes não captam os novos nutrientes.

Os trabalhos na natureza fazem parte das minhas vivências, gosto de plantar e acompanhar o crescimento das fruteiras. As minhas raízes ditam-me que assim seja.

 

 

  Ant.Gonç.(antonio)

Mestre-escola e professor primário II

Vamos dar continuação ao artigo com o título supra citado, dos finais do século XIX, no semanário Educação Nacional:

 

 

"Mas ninguém como o mestre de primeiras lettras atentava mais directamente contra a bestialidade contumaz dos que compunham as multidões. A ignorância é ousada e o mal é pertinaz. A revolta é o que se depara logo a quem se propõe suprimir estas coisas irritantes. Mas abstrahindo de toda a idea de mal, que com ignorância melhor se casa, o saber devia de ser qualquer coisa, de diabólico que podia subverter o mundo e por isso os sábios eram estranhos seres que pactuavam com o demónio. Vencida alfim essa noção falsa, ainda ficava a rebeldia aos hábitos de polidez de hygiene e de disciplina que a educação traz comsigo.  As paixões presentem vivamente o que as há de contrariar, e os hábitos de infância ficam verdadeiras paixões. No typico mestre-escola, sem sciencia e sem orientação, anteviam as multidões a revolução pedagógica que havia de atingi-las. E reagiam, irritavam-se, vingavam-se com fúria no pobre ser faminto, miserável e bufão, que em tristonhos pardieiros ensinava a ler meia dúzia de creanças, filhos de paes corajosos e já de ambições mais altas, ou porventura de ideas fundamentalmente progressivas.

Passaram-se os tempos. Generalisou-se mais a vontade de aprender, excepção de aldeias sertanejas, onde o abandalhamento é a lei, e onde a civilização provoca protestos e risos de rude violência. Mas procura-se na escola só a instrução, que se julga propicia a todos carreiras dinheirosas, e reage-se ainda com energia contra os preceitos educativos que já cuidadosamente ministram os que ensinam com zelo. O mestre-escola deu logar ao professor primário, entidade preponderante da civilização moderna, a primacial, a merecedora de considerações maiores, de mais calorosas gratidões pelo menos.

Vós, literatos, jornalistas, gazetilheiros joviaes, comediógrafos e revisteiros facetos, todos os que ainda trataes desprezivamente, o educador modesto da infância, e lhe chamaes desdenhosamente mestre-escola, não o conheceis de certo, o professor primário, esse profissional consciente e zeloso, a quem principalmente se devem os progressos de há anos realizados na sciencia pedagógica. Porque se a escola fez a elle é elle quem faz a escola. Começa a sua carreira cruel já com um solido curso, o qual tendo uma forte especialização, avulta muito também em ideas geraes,haje indispensáveis. Depois o laborioso propagador da instrucção do povo, ganha amor ao ensino, a praticar vae-lhe melhorando os processos, disciplinando-lhe o methodo, trazendo-lhe verdades novas, uteis, fecundas, e a escola apura-se, a instrução desenvolve-se, define-se rigorosamente no meio social a nobre instituição que tem por fim educar os povos, chamar os homens todos à santa comunhão dos ideaes melhores, mais impulsivos e claros.

Dignidade não falta a este valido obreiro da escola. Sabe-se como o estado remunera os seus altos serviços, escassamente, quasi  deshumanamente, e ve-lo-heis sempre trajar decente, com decoro e com modéstia. Apresentação correcta, nas relações escrupuloso, só quanto às qualidades de caracter e de educação das pessoas entende-se, a moralidade austera, e é uma creatura torturada quasi sempre, todo o proceder duma lisura firme, completa, surpreendente. Espelho de virtudes cívicas, sociaes e domesticas, o professor primário é bem um sacerdote da civilização, sente vivamente que a cruzada que exerce é com efeito a de mais alta benemerência nos destinos humanos."

 

 

  Ant.Gonç.(antonio)