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Magistério6971

Os autores deste jornal virtual apresentam a todos os visitantes os seus mais cordiais cumprimentos. Será bem-vindo quem vier por bem.

Magistério6971

Os autores deste jornal virtual apresentam a todos os visitantes os seus mais cordiais cumprimentos. Será bem-vindo quem vier por bem.

Olhar o Porto - CXLIX(Da Ribeira à Foz)

Na sua última entrevista feita por Fátima Campos Ferreira, José Hermano Saraiva, insigne historiador e comunicador, já bastante fragilizado fisicamente dizia à entrevistadora que se sentiu rapaz até aos oitenta anos. A partir daí é que as coisas começaram a mudar.

Hoje tive o privilégio de ser um dos muitos acompanhantes de Germano Silva que já passou a fasquia dos oitenta e continua moço.

No passeio de hoje da Ribeira até à Foz o homem mais uma vez  mostrou a sua pedalada física e mental (tenho-me repetido nesta apreciação, mas não é demais o reforço). Eram mais que muitos a acompanhá-lo e pasme-se, fresco como uma alface enquanto que muitos cinquentões e menos iam com a língua de fora com os bofes a dar a dar, qual podengo após um dia de montaria ao javali.

O passeio ribeirinho incidiu sobre locais paradigmáticos desde logo a Ribeira, Largo do Terreiro, Miragaia, Massarelos, Bicalho, Ouro todos com tradições mercantis, locais de navegantes. O espírito religioso ligado às aventuras marítimas está bem patente nas capelas e oragos a que recorriam, Senhora da Boa Viagem, Senhor dos Navegantes, figura lendária de São Telmo.

Toda a epopeia ligada ao comércio marítimo foi sempre evidenciada pelo mestre com as suas buchas humorísticas sempre com pimenta a condimentar que fazia o gáudio dos ouvintes. Neste contexto não podia faltar a estória passional da ilha do frade na zona da Ribeira das Naus junto à foz do rio da Granja. Os frades eram malandrecos, dizia o mestre com o seu sorriso irónico.

O Rancho Folclórico do Porto dirigido por A. Fernandes um conhecedor também das coisas do Porto, de raízes cinfanenses tal como Cardoso do violino, como já vem sendo hábito nestas passeatas, deu o seu contributo com canções ligadas à epopeia dos navegantes.

 

 

    Ant. Gonç. (antonio)

Olhar o Porto - CXLVIII(Esplanadas em palanque)

Rui Moreira na sua crónica  no JN começa assim:

“Os portugueses deixaram de acreditar nos políticos, e nas políticas, e saíram à rua por não conseguirem vislumbrar qualquer luz ao fundo do túnel”.

De facto assim é, o descrédito é total nas instituições. Estava a ler estas tristes verdades e no mesmo jornal vem mais uma vez à estampa as célebres esplanadas em frente ao Piolho na Praça Parada Leitão. Têm que ir abaixo, (esta decisão já tem barbas) mas ninguém sabe quando, diz a notícia. Cá para mim a CMP está a tentar fugir com o cú (rabo será mais simpático) à seringa para dar o tiro de partida. Pudera, a batata é quente pois andaram a fazer, ou permitir, aquilo sem parecer favorável do IPPAR, agora é IGESPAR. Às tantas ainda vão alegar que não têm recursos para a despesa da demolição, mas para a implosão da torre do Aleixo houve, passe a ironia.

Neste país tudo funciona com rolamentos gripados. Então depois de haver uma decisão de demolição nada se faz? Estou a lembrar-me também de casos de justiça em que as decisões não são cumpridas. Indivíduos de peso são condenados e não vão dentro? Um caso de Oeiras é paradigmático. É mesmo um país de faz de conta.

 

 

    (antonio)

Pela ruralidade - CXXIII(Em Fornelos, Cinfães, um dia de trabalho)

Tinha acertado o dia para limpeza do monte das Madroas, leia-se corte de mato e afins. Duas máquinas roçadeiras que tinha mandado afinar, com discos de três dentes, foices, ancinhos, serra de arco e podões foram os utensílios materiais. Quanto aos humanos, oito braços femininos mais os dois meus e toca a dar-lhe em trabalho contínuo. Ainda o relógio do campanário não tinha dado oito horas e já estávamos em pleno trabalho, e eu já tinha no papo 60 Km.  Apesar de estarmos em Setembro o sol continua a aquecer e a tão esperada chuva parece que fez greve e nem os serviços mínimos salvaguardou. Para abafar a canícula que se faz sentir ainda neste Setembro, levamos um garrafão de água vinda dos lençóis freáticos.

O monte que já foi castigado no passado com fogo que andou por lá a lamber, tem eucaliptos, alguns carvalhos e pinheiros jovens. Noutro tempo quando havia agricultura tradicional a sério o monte andava limpo, pois o mato era aproveitado para as cortes do gado e depois ia para os campos transformado em estrume.

A Vanda, Carla, Joaquina e Sílvia, nomes fictícios, já me têm feito outros trabalhos essencialmente de limpeza de terra de monte. São gente lá da terra, de fibra, não andam à cata do guarda-chuva do rendimento social de inserção, mas não deixam de criticar os manhosos que se fazem de coitadinhos para receberem a esmola do RSI.

Para chegarmos ao monte seguimos por um caminho antigo invadido por todo o tipo de vegetação, está reduzido a um estreito carreiro ao meio por onde passam alguns. É este o triste abandono de muitos caminhos de Fornelos praticamente intransitáveis. Há outras acessibilidades por um lado e por outro diz a junta de freguesia que não há dinheiro para os limpar. Tenho-me batido por esta vertente nomeadamente aqueles caminhos que também me servem alguns terrenos, mas barro com dificuldades de não haver graveto. Pois não há, foi todo desbaratado para as auto-estradas e a vergonha nacional das PPP, e as sobras para os bolsos de rapinadores.

Cortado o mato, bem como giestas e carrascos, foi colocado em montículos para depois queimar lá mais para diante quando as condições atmosféricas com bom grau de humidade o permitirem.

 

    Ant.Gonç.(antonio)

Saudosa retrospectiva

Hoje levei uma murraça no estômago, fiquei por uns instantes KO mas aguentei-me e segui em frente.

A gente já não está em idade para virar o mundo ao contrário, daí vamos aceitando sem grandes queixumes as cambalhotas que a vida nos proporciona. Se um tipo tropeça e cai, se caiu bem levanta-se e desabafa, sorte a minha, não espatifei as canetas. À parte os tropeções da vida que se vão solucionando há também um parar, olhar para a carruagem de trás, ver o que foi feito por mim e pelos outros e como foi. Nesta retrospectiva há um abanão, um calafrio que nos percorre a espinha. E assim neste quadro sentimos como a vida é fugidia.

Estava no youtube e casualmente aparece-me um vídeo que me fez recuar aos meus tempos menos maduros. Era Nana Mouskouri, cantora grega com a sua voz melodiosa e a pose que era um mimo com os seus óculos, imagem de marca, aros de massa inconfundíveis. Percorri as suas várias canções que me deixaram mais jovem por uns momentos, seguramente 40 anos. Depois lembrei-me de ver o que dizia a Wikipédia sobre esta charmosa que era um dos meus ídolos. E aí esmoreci com o tal supetão que falei no início, quão fugaz é a vida! A pivot que me enlevou nasceu no ano de 1934. Bolas, tem mais dez anitos do que eu!... Rejeito ver a sua imagem actual, quero preservar a minha memória da cantora.

 

 

  Ant.Gonç. (antonio)

Olhar o Porto - CXLVII(Professor injuriado)

Fala-se muito na não justiça que grassa neste nosso país esfrangalhado, é para não fugir à regra onde tudo não rola sobre carris. Uns dizem que a culpa é das leis que saem do hemiciclo que são confusas, ambíguas, cheias de alçapões dando azo a serem manuseadas por gente do poder conforme der jeito. Sugiro visionamento do vídeo com  Paulo Morais, no fim do post . Marinho e Pinho, bastonário da Ordem dos Advogados não tem tido papas na língua, dá forte e feio nos aplicadores da justiça.

Não sei se os eventuais leitores deste escrito já alguma vez tiveram problemas com a justiça, eu felizmente não. Pelo que leio e oiço é de fugir, pois o azar de alguém se sentar no banco dos réus ou à beira, e se precisar de advogado?!...

Vou contar um caso que se passou nas minhas barbas. Quando trabalhei na escola do Passeio Alegre de que aqui já fiz referência, à hora do recreio há um rapazola de maior idade, que saltou o muro da escola e foi jogar à bola com os alunos para o logradouro. O professor que estava por lá não gostou e indicou ao intruso para se pôr ao fresco. O rapaz à primeira não ligou, cresceu, e só perante a insistência do professor é que desandou não sem que o injuriasse à vista de todos os alunos. Bem, o professor sentiu-se maltratado e comunicou ao ministério público que fez um inquérito e  finalizou com um julgamento no tribunal de S. João Novo. Fui arrolado como testemunha do que tinha presenciado e no julgamento perante o juiz o advogado do rapaz começou a desancar na atitude do prof “que expulsou um antigo aluno que  só entrou na escola para recordar tempos idos, etc” e toda aquela lengalenga palavrosa que os advogados sabem florear. Fiquei banzado ao ouvir aquilo pensando que o castigo, em face do  articulado do causídico, iria cair sobre o prof. e ilibar o insultuoso. Mas não, o juiz impávido e sereno aplicou ao prevaricador uma pena que de facto merecia.

Este apontamento é mais uma memória da vida profissional..

 

      http://www.youtube.com/watch?feature=player_detailpage&v=yxC5urzHq9s

 

  (antonio)

 

Olhar o Porto/ruralidade - CXLVI(Vida dura)

Ontem ao passar os olhos pelo JN encontro uma reportagem que me prendeu a atenção. Era sobre a última carquejeira, senhora com um século de vida e com um milénio de duros trabalhos. Subia aos SS carregada com molhos de carqueja a íngreme calçada que já se chamou da Corticeira e agora em homenagem a essas poderosas mulheres – Calçada das Carquejeiras. Chegava esse combustível nos barcos rabelos vindo das terras do interior douro abaixo e que depois era levado pelas carrejonas carquejeiras a galeto para as diversas padarias da cidade vencendo a inclinação da citada calçada. Quem conhece o local pode afirmar sem hipérbole  que um asno sem albarda se a calcorrear chegará ao cimo (Passeio das Fontainhas) com a língua bem de fora.

Ao ler esta reportagem vem-me à memória, era eu um puto que andava ainda na escola também a aprender que na província ultramarina de Angola havia um rio Zaire ou Congo, uma senhora que passava carregada com um enorme molho de urzes e chamiças. Vinha de uma terra vizinha e que levava para um vendeiro que não sendo padeiro, fazia no forno a broa que vendia na sua venda, passe a redundância.

Aqui na cidade a história das carquejeiras está documentada, mas por este país fora o rigor duro da vida na sobrevivência humana é de facto digno da nossa curvatura.

 

 

    (antonio)

O dinheiro e a grila

Ter o hábito de ler os jornais e ver os noticiários principalmente da televisão pode ser deprimente para muita gente.

Tantas vezes me questiono quão salutar será a vida do pastor que apascenta o seu rebanho dias e dias, dormindo muitas vezes ao luar na companhia dos animais lanígeros e do fiel amigo, longe das insuflações noticiosas dramáticas.

A miséria humana é-nos escarrapachada entrando em nossas casas, em horas nobres sem pedir licença, nas dimensões reais e na hora, quer se passe na nossa rua ou à distância. Parece que é o que vende, e certamente é, as situações de faca afiada e alguidar a transbordar de sangue vermelho serpenteando pelo asfalto. A minha sogra de vetusta idade com a sabedoria acumulada, diz que todos esses dramas são devidos ao dinheiro e à grila (entenda-se, casos passionais). Duas vertentes que estão no centro de todos os factos noticiosos que os média exploram até à medula, dando de bandeja ao povo também ávido da miséria dos outros. E aqui funciona a tal máxima , dar ao burro a palha de que ele gosta. E assim se fecha o círculo.

 

 

      (antonio)

Pela ruralidade - CXXII(O engenho)

Em post anterior abordei esta engenhoca, que é dos tempos dos nossos antepassados, vou hoje falar da sua funcionalidade. Dizia eu que era um criado que abria e tapava as presas, poças, brechas e mineiros e tanques.

Como estamos a falar em zonas rurais onde a propriedade era, e ainda é, muito dispersa, daí que muitas vezes os lameiros ficavam distantes e era preciso dar-lhes muita água. Então aqui entra o engenho. Formado por dois tubos que actualmente são de plástico mas que no passado eram dois troncos de pinheiro escavados, unidos na parte superior normalmente em bisel, ficava um dentro e outro fora da poça. A parte superior do engenho, na união dos dois tubos, teria de ficar levemente mais baixa em relação ao cimo da poça,  para que a água da nascente, quando  a enchesse saísse pelo engenho por gravidade expulsando todo o ar do interior e assim obrigar à  sucção da  água da presa. E assim sucessivamente a poça era esvaziada e cheia, noite e dia, com  rotatividade, com espaçamento em função do caudal da nascente e do diâmetro da tubagem do engenho bem como da capacidade da poça.  A base do tubo exterior para uma eficiente sucção deverá ficar numa pequena pia que será cheia com a primeira água da nascente, que sai e vai expulsando o ar e daí o consequente funcionamento do engenho. Esta engenhoca baseia-se no vaso de Tântalo das leis da física.

Com o abandono das terras o engenho praticamente já não é utilizado. Lembrei-me de pôr um a funcionar (na minha arrecadação há alguns que noutros tempos foram utilizados) para me regar os  citrinos duma propriedade outrora terra de pão que estavam a precisar de água como um faminto a pedir pão para a boca, durante os meses deste Inverno   seco e também neste Verão que vai no mesmo andamento. Quando o trabalho serviçal do engenho já não for necessário destapa-se o pequeno orifício, antecipadamente feito na parte superior, entrando ar já não se faz o esvaziamento da poça. Lá na terra das minhas raízes há um engenho numa poça dum vizinho feito numa só pedra. Usos e costumes dum outro tempo.

 

 

    Ant. Gonç. (antonio)